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CASTANHEIRA: ALBERTO BARREIRO, O HOMEM DOS BOIS

22 de Janeiro de 2019 | Marlene Cunha
CASTANHEIRA: ALBERTO BARREIRO, O HOMEM DOS BOIS
Castanheira

 

As gerações mais antigas ainda se lembram de Paredes de Coura ser conhecida como o celeiro do Minho, face à preponderância que a actividade agrícola tinha na economia do concelho.

No mundo rural abundavam então, os postos de recolha de leite, devido à enorme criação de gado bovino pelas nossas aldeias. Quem não se lembra das famosas feiras de gado de outrora?

Perante o elevado número de vacas, existiam alguns bois de cobrição, onde os produtores se dirigiam, sempre que pretendiam acasalar os animais.

Na freguesia existiu, ao longo de décadas, uma família que se dedicou à criação de bois, inicialmente com o saudoso Manuel Barreiro, que deixou o legado ao filho Alberto da Silva Barreiro, casado, pai de 4 filhos, hoje com 81 anos de idade, residente no Lugar do Covelo.

Para conhecer um pouco melhor esta actividade, fomos ao encontro de Alberto, que deixou a função há cerca de 20 anos, face ao constante decréscimo na produção do gado bovino, que levou, inclusive, à extinção dos postos de recolha de leite. Hoje, as poucas vacas existentes são submetidas a inseminação.

Recorda, com saudade, que chegou a possuir 4 bois de cobrição, das raças galega, torina e barrosã. Tinha clientela de praticamente todo o concelho, e o pagamento era efectuado com a entrega de milho. Inicialmente os lavradores pagavam um quarto de milho por ano e, mais tarde, uma arroba. Com esse pagamento tinham direito aos préstimos dos bois durante um ano, independentemente do número de vezes. Só nos últimos anos da actividade é que o pagamento começou a ser efectuado em dinheiro.

O milho então recolhido pelos diversos clientes era praticamente todo canalizado para os senhorios das terras. “Pagava de rendas cerca de 6 carros de milho por ano”, adiantou.

Os bois, todos de grande porte, estavam acorrentados, e quando se procedia a uma achega, havia sempre um cuidado especial com a animal. Era uma actividade de enorme risco.

Nos inícios, os bois eram pertença do Estado. Só mais tarde é que passaram a ser propriedade da família. Lembra que, uma vez, houve necessidade de transportar um boi até á Zona Industrial, nas Corredouras, para ser transferido para Viana, por ordem estadual. Reuniu um grupo de homens para segurar o animal, preso com diversas cordas. Próximo do local e perante uma levada de água, o animal efectuou um movimento brusco para beber, conseguindo escapar ao grupo de homens que o seguravam, gorando assim o transporte.

Sempre agricultor de profissão, relembra os tempos difíceis de então. “Uma autêntica escravatura”, rematou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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