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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA

19 de Outubro de 2021 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA
Destaque

TEODORO FERNANDO, O LIVRO ABERTO DO RANCHO DE BICO

De regresso à divulgação de figuras courenses com história, o NC foi, nesta edição, até terras de Bico. Falar de Bico é, forçosamente, falar de floclore. As gentes desta freguesia respiram folclore por todos os poros. Obrigatóriamente, temos que falar do Camponês de Bico, tendo a ele associado uma figura sobejamente conhecida do meio courense e não só.

Fomos então ao encontro do rosto mais visível do grupo, aquele que assume a responsabilidade de apresentar o Rancho em público. Uma voz a que todos nos habituámos, um estudioso e com largos conhecimentos na área do folclore, embora nunca tenha sido dançador ou tocador.

Ao final da tarde de um dia soalheiro de Outono, encetámos uma amena e interresante conversa com Teodoro Fernando Rodrigues Barbosa, 77 anos, casado e pai de 3 filhos, aposentado dos CTT, onde trabalhou na área das telecomunicações. Filho de um embarcadiço da Marinha Mercante, com uma prole de 6 irmãos, nasceu e cresceu na casa onde hoje mora.

Da conversa encetada ficámos a conhecer um pouco mais da história do Camponês de Bico, criado em 19 de Março de 1959, após uma primeira aparição nas Festas do Concelho de 1958, ainda num modo informal. Nessa participação, o grupo de Bico alcançou o 1º lugar, que serviu de estimulo para as gentes da aldeia se unirem na criação do Rancho, tendo como fundadores António Vieira Gomes, António Barbosa (Montinho), António Vilas Boas, responsavel pela parte financeira, e António Barbosa Dantas, como ensaiador. A primeira aparição pública do Rancho foi no São João, em Braga, no dia 24 de Junho de 1959.

Registámos ainda que a escritura pública da fundação do Rancho foi lavrada em 21 de Fevereiro de 1979, volvidos 20 anos após o aparecimento. Rancho que teve na pessoa de Pedro Homem de Melo um grande admirador e apoiante, tendo sido por intermédio desta figura mediática do floclore portugês que, em 1960, o Rancho gravou o primeiro disco, para lá da participação em diversos programas televisivos.

Entre 1984 e 1992, o Rancho teve uma fase de menor actividade, segundo Teodoro Fernando, devido à não existência de uma direcção estável e duradoura, o que teve reflexos na funcionalidade do grupo.

Em 1992 desenvolveram-se esforços para a reactivação efectiva. Nessa altura é convidado a integrar os órgãos sociais da colectividade, assumindo então o cargo de secretário da direcção, função que exerce até aos dias de hoje, já lá vão 29 anos. Eleitos os novos órgãos sociais, a direcção desenvolveu os esforços necessários para a regular actividade do Rancho, cativando a juventude à participação e estabilizando o suporte humano necessário para a existência do grupo.

O resurgimento do Rancho não foi tarefa difícil, porque as pessoas estavam famintas de floclore e colaboraram muito bem para o trazer de volta. As gentes de Bico e do Alto Coura respiram folclore todos os dias, afiança Teodoro Fernando.

Até à paragem forçada, devido à famigerada pandemia que aponquentou o mundo, o Ranho contava no activo com cerca de 60 elementos, entre tocadores e dançarinos, com 12 pares de dançantes adultos, para lá do grupo juvenil. Habitualmente o Ranho ensaiava uma vez por semana, por norma ao sábado, tendo actualmente como ensaiador o Carlos Alberto Oliveira.

Teodoro Fernando, não tendo algum momento mais marcante, enquanto responsável e apresentador do grupo, destaca as inúmeras participações em festas e festivais, um pouco por todo o país, para lá de algumas actuações na vizinha Espanha, além de algumas deslocações a Bordéus e Dijon, França, onde é sempre notório o calor humanos dos nosso emigrantes.

Sendo Bico uma terra virada ao folclore, a maior dificuldade que a direcção encontra é sempre o factor humano. Cada vez é mais difícil cativar pessoas para o associativismo em geral e para o folclore em particular, mas felizmente, por cá, as pessoas ainda se envolvem nas tradições culturais da terra, diz o nosso interlocutor, que elogia a boa organização e o entendimento entre as pessoas que integram este projecto.

Depois da inactivade forçada nestes últimos dois anos, tem a esperança que, paulatinamente, tudo volte à normalidade e, brevemente, possamos deliciar-nos de novo com as subidas do Camponês de Bico aos palcos. Para já, a direcção vai encetar contactos com as pessoas para aquilatar da disponibilidade de cada um para voltar ao grupo. Esta será, por certo, a tarefa mais difícil, congregar de novo as pessoas à volta do Rancho, afiança, mantendo viva a esperança de um regresso maciço de todos os elementos que compunham o Rancho, não só de Bico, mas também das freguesias vizinhas.

Por último, pretende deixar uma manifestação de reconhecimento  e amizade a todas as pessoas do grupo que divulgam o folclore e o Camponês de Bico com todo o amor e dedicação, esperando-os a todos de volta neste regresso que se espera para breve.

Resumidamente, aqui fica o registo de uma figura dedicada ao folclore com toda a paixão. Um rosto que nos habituámos a ver sempre que o Camponês de Bico sobe ao palco.

Parabéns, Teodoro Fernando.

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