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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: CONCEIÇÃO AZEVEDO, A SENHORA FOLCLORE

12 de Agosto de 2019 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA: CONCEIÇÃO AZEVEDO, A SENHORA FOLCLORE
Geral

Depois da música filarmónica, o folclore. Numa viagem de Rubiães até Vascões, fomos ao encontro de uma figura incontornável, e sobejamente conhecida, do folclore courense.
Ao falar com Maria da Conceição Fernandes Costa Azevedo, 74 anos, viúva, mãe de 2 filhos, o tema só pode ser folclore, a paixão de uma vida de uma senhora umbilicalmente ligada à música do povo.
O bichinho pelo folclore nasceu-lhe no ventre da mãe, a saudosa Maria da Costa, voz inconfundivel daquela que era conhecida como a Amália de Coura, com destaque para a Chula da Maia, tema que ainda hohe ouvimos em disco com um arrepio na espinha. Ainda criança de colo, acompanhava a mãe nos serões que se realizavam em casa do avô, onde não faltavam as concertinas e os cantares. “Era uma borga”, recorda.
Com 9 anos de idade ía até Bico, para a casa do “Chico do Túmio”, que gostava de fazer umas festas, com a presença de gente do folclore. Apesar da idade já cantarolava com grande acerto, despertando a atenção dos mais velhos, face ao apurado requinte da voz da catraia. Foi então convidada a integar as rusgas que se fazim na altura.
Este foi o ponto de partida para uma incursão no folclore. A convite do saudoso Félix, de Bico, passou então a integrar o Rancho Folclório Camponês de Bico.
Entretanto, em 1973 emigrou para França, ao encontro do marido. Chegada a terras gaulesas, o folclore continuou a fazer parte do dia-a-dia, incorporando-se no Rancho de Clermont Ferrand, zona onde vivia e onde coabitavam muitos portugueses.
Com o falecimento do marido, regressou às origens em finais de 1982. Chegou a Vascões em Dezembro e, logo a seguir, estava programada a festa de S. Sebastião, que contava com a presença do Rancho Folclórico de Cristelo.
Neste cenário, organizou-se, para formar um rancho na freguesia, com a finalidade de participar nas referidas festividades, ombreando com os vizinhos de Cristelo. “Mobilizei as forças vivas e a juventude da freguesia e, com muito trabalho e dedicação, lá conseguimos formar um grupo para ir à festa”, recorda. Os trajes foram feitos por ela própria, com a colaboração de mais duas ou três senhoras da freguesia.
Chegado o dia da festa, a actuação aconteceu depois do Rancho de Cristelo. A exibição foi de tal ordem que, um projecto traçado só para aquele dia, teve continuidade, face ao empenho e vontade das pessoas. Foi assim que surgiu o Rancho Folclórico do Alto Coura, Vascões, que se manteve em actividade durante 25 anos.
Ao longo dos anos, Conceição foi ensaiadora, cantadeira e dirigente, até que as forças a obrigaram a abdicar de uma das maiores paixões da vida. “Fui sujeita a diversas intervenções cirurgicas e, com muito custo, tive que colocar um ponto final na actividade do rancho”, adianta.
Recorda, com saudade, todo o trabalho desenvolvido na Associação, onde, a muito custo, conseguiram edificar uma sede. Andávamos de porta em porta a cantar os Reis para angariar fundos. Após o afastamento, o Rancho ainda se aguentou, mas por pouco tempo. Um dia, chegou à sede e ficou extremanente triste e desgostosa, ao deparar com a indumentária, que tanto trabalho deu a fazer, completamente estragada.
Ao longo dos anos, o Rancho mostrou sempre grande pujança, destacando-se exibições em França e Espanha, para lá de terem calcorreado praticamente todo o país. Mas era em Espanha que a senhora do folclor mais gostava de actuar. “As pessaos envolviam-se muito mais nas nossas actuações”, afiança.
Sendo Vascões uma terra pequena, os elementos do Rancho extravazam as fronteiras da freguesia, integrando muita gente vizinha, nomeadamente de Senharei, Arcos de Valdevez. Só a nivel de tocadres é que a prata da casa era suficiente, ou não estivéssemos nós na presença de uma freguesia de eximios tocadores de concertina, desde logo o Bento Macedo e o Manuel Ribeira, entre outros.
“Sendo o folclore uma actividade por gosto e paixão, o contributo das pessoas era por amor à arte”, no entanto, adiantou, recorda-se de num ano terem distribuido mil escudos por cada elemento. Não dava para mais. As verbas angariadas nas festas destinavam-se ao pagamento do transporte e ao lanche do pessoal.
Com o folclore a correr-lhe nas veias, hoje gosta de assistir a todos os eventos que envolvam ranchos, estando sempre disponivel a participar em actividades que envolvam esta vertente musical. “Sempre que solicitada lá vou em rusgas, como no cortejo etnografico e outos eventos. Estou cá para ajudar”, remata.
Recorde-se, por fim, que Conceição Azevedo esteve na génese do Rancho Folclórico de Rubiães, há cerca de 15 anos, tendo sido ensaiadora e ajudado aos primeiros passos do agrupamento.

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