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ENSINAR A DECIDIR E DECIDIR A ENSINAR

23 de Março de 2018 | Helena Ramos Fernandes
ENSINAR A DECIDIR E DECIDIR A ENSINAR
Opinião

 

Tenho dois filhos que estão numa fase decisiva das suas vidas. Não vou chamar-lhe complicada… mas sim decisiva. Ambos estão numa altura de escolhas. Um tempo em que a escola lhes pede para escolher a área de estudos que pretendem seguir.

Olho para as opções e vejo que não diferem muito do meu tempo. As ciências e as letras ainda lá andam. Mas dou comigo a pensar em segredo como são ainda tão jovens os meus filhos e já a vida os obriga a fazer escolhas que, quando erradamente feitas, podem condicionar seriamente o futuro deles. E isto não é nenhum drama de mãe! Conheço hoje casos de jovens e até mesmo de adultos que fizeram a escolha errada nesta altura da vida. E depois, ora porque deixaram andar ora porque alguém os obrigava a frequentar essa área de estudos, deram-se mal na vida. Ou seja… nunca sentiram uma realização pessoal em pleno. Uma escolha errada no ensino secundário vai, quase que inevitavelmente, resultar numa escolha ainda mais errada no acesso ao Ensino Superior. Frequentar um curso do qual não se gosta resulta em muitas situações trágicas tanto para o aluno como para os encarregados de educação: começa desde logo com todo um imenso tempo perdido para ambas as partes. Os pais pensam que estão a investir na licenciatura dos filhos. Só que não. O estudante falta às aulas… não se interessa pelo curso… chumba um ano, dois e até três e o resultado será apenas um: um monte de dinheiro desnecessariamente deitado fora. Aquilo que os pais pensavam estar a ser um investimento, não passou apenas de um enorme gasto. Uma factura que foi ficando cada vez mais pesada ao longo dos anos depois de um erro cometido naquela hora decisiva. Os pais não viram. Os familiares não viram. Ou então ninguém quis ver.

É tremendamente fundamental que pais, encarregados de educação e familiares estejam ao lado dos filhos nesta hora de escolher. Jovens com 15, 16 e 17 anos não têm, evidentemente, uma experiência de vida suficientemente vasta para tomar este tipo de decisões. Aflige-me, ainda hoje, ver pais abstraírem-se totalmente desta questão e deixar que os filhos escolham à vontade e sigam em frente. Aflige-me ver pais demitirem-se das suas funções e confiarem simplesmente na sorte. Isto é ser pai? Isto é ser mãe?

De acordo com vários especialistas, nestas alturas os pais tendem a cair no erro de influenciar (ou pelo menos tentar) os filhos a optar por áreas conducentes a profissões em que possam obter bons ordenados. Noutros casos, o erro acontece quando se verifica o cenário que referi em cima: os pais demitem-se totalmente de o ser nesta fase da vida dos filhos.

No que diz respeito ao primeiro erro, é preciso que os pais entendam (como eu também tive de encaixar) que é necessário ser bom profissional para ter um bom ordenado e não o contrário. É certo que há muitas vezes em que a primeira equação não sucede. No entanto, bons ordenados não fazem bons profissionais. Isso é uma certeza matemática.

Já sobre o segundo erro, não há muito a dizer. Pais que não estão ao lado dos filhos nestas alturas sujeitam-se mais tarde a enfrentar dificuldades de grau completamente imprevisível. Pode não acontecer nada. Mas pode também acontecer tudo. Como por exemplo, ver o filho a trabalhar numa área ou numa função em que a licenciatura só incomoda.

Por outro lado, vejamos o caso de um jovem que se vê “obrigado” ou “induzido” pelos pais a “marrar” para entrar em Medicina. E este acaba por conseguir mas, azar dos azares, não gosta de ver sangue. Um exemplo entre muitos outros. Basta isto para todo um futuro estar condenado. A desmotivação é iminente. O investimento torna-se um gasto. O risco do estudante entrar em depressão aumenta exponencialmente, sobretudo se houver pressão de pais e familiares. O estudante tende a procurar soluções para fugir à realidade. Não raras vezes, infelizmente, o capítulo final é mesmo desastroso. E nessas alturas ainda há pais que teimam em perguntar: “O que fizemos nós de errado?”

Mas vamos supor que o estudante até termina a licenciatura em Medicina (e quem diz este curso diz outro qualquer). Será que dará um bom profissional? Fica aqui esta dúvida! Até arrisco a questionar me se afinal será o ordenado (em função do trabalho) assim tão apetecível? Deixemos esta área para quem realmente tem vocação. Porque precisamos de bons médicos! Porque uma vida sem realizações, sem sonhos, transforma-se rapidamente num vazio imenso!

Faleceu recentemente um dos maiores homens da ciência que o mundo já viu. Disse Stephen Hawking que “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento”. Nada mais certo. Os pais que tendem a pensar que tudo sabem sobre paternidade vivem uma das maiores ilusões das suas vidas. Uma ilusão perigosa sujeita a terminar em catástrofe. Não só estão a prejudicar-se a eles próprios como estão a contribuir directamente para a ignorância dos filhos ao empurrá-los para uma área pela qual eles não têm o mínimo interesse. A ignorância vai, por isso, continuar. E em dobro: nos pais e nos filhos.

Com esta equação certíssima, formulada por um sábio que será para sempre lembrado e estudado, tentemos não nos esquecer de estar ao lado dos nossos filhos. Sobretudo em matéria de escolhas.

O importante é a felicidade deles, seja quando estão debaixo das nossas asas, sejam quando estão a construir o seu próprio destino. É nisto, que nós, pais, nos devemos focar. Sejamos ignorantes e conhecedores o quanto baste para que os nossos sejam felizes se

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