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HISTÓRIA COMPLETA DE UMA SAUDOSA AMIZADE

19 de Novembro de 2019 | Albano Sousa
HISTÓRIA COMPLETA DE UMA SAUDOSA AMIZADE
Geral

PEDRO HOMEM DE MELLO E A VISITA À CASA DE VERMOIM

Falar de Pedro Homem de Mello é avivar a memória do folclore, por se tratar de uma figura intimamente ligada ao interesse pelo folclore e a uma vivência das tradições de expressão popular, desenvolvendo o poeta muita da sua obra num cenário nortenho.

Nascico na cidade do Porto em 6 de Setembro de 1904, viria a morrer na Cidade Invicta em 1984, com 80 anos de idade. Poeta português, formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1926, após o que exerceu o cargo de Delegado do Procurador da República em Águeda, conciliando-o com a prática da advocacia. Foi ainda professor do ensino secundário e director da Escola Comercial Mouzinho da Silveira. Mas, entre as muitas actividades, destaca-se a sua dedicada pesquisa sobre o folclorte português, que contemplou com vários programas de telavisão, ensaios e exposições de recolha etnográfica da diversidade de registos musicais e culturais de norte a sul do país. Era apelidado por muitos como o Senhor Folclore, sendo um grande admirador e impulsinodar do Rancho Folclórico Camponês de Bico, ao qual sempre teceu rasgados elogios nos seus programas na RTP durante a década de 60 do século passado.

De entre muitas obras literárias que publicou ao longo da vida, fomos supreendidos quando, ao folhear o livro “Povo que Lavas no Rio”, editado na década de setenta do século passado, ficámos a saber que por entre outras paragens, Pedro Homem de Mello passou pela casa brasonada de Vermoim, sita no Lugar da Ribas, que foi tema de uma das últimas edições do Notícias de Coura.

Ora, segundo ele narra, depois de travar conhecimento com um colega de liceu no Porto, de nome Diocleciano Bezerra, estudante de aspecto quase pobre, onde todos lhe faziam troça, ele, na qualiade de mais forte, viu-se, muitas vezes, forçado a defendê-lo. Foi então convidado pelo rapaz a visitar a terra natal nas férias grandes. Onde nasceste?, pergunta Pedro Homem de Mello. Nasci em Coura, respondeu o Bezerra.

Mais tarde, quando circulava pela Rua do Principe, deu com um rapaz, sentado na varanda da pensão, de harmónio a tiracolo, ensaiando um vira raiano. Ao reparar melhor, verificou tratar-se do Bezerra. Tratou logo de o levar para a récita de finalistas do liceu, incluindo no programa a concertina do Diocleciano. Quando a noite do espectáculo chegou, o teatro encheu-se. Agora palmas, o que se diz palmas, teve-as o Bezerra, e daí em diante, o amigo passou a ser alguém. Nas excursões, nos bailes e mesmo em reuniões desportivas, o harmónio de Coura aparecia, sempre no meio do contentamento geral. E ouvia-se: Ó Diocleciano, mais um vira. Mais uma chula.

Entretanto, o amigo Diocleciano desapereceu do convivio e Pedro Homem de Mello perdeu-lhe o rasto.

Volvidos uns quinze anos, em pleno Verão, durante as festas da Bonança, em Âncora, que Pedro Homem de Mello não falhava, quando aplaudia os bailadores de Sopo, alguém lhe aperta o braça e exclama, Pedro!

Era o harmónio de Coura. Estava reencontrado o amigo Diocleciano.

Neste reencontro, foi combinada a viagem até Coura. Ficou agandada para um domingo. Ora, no domingo combinado, Pedro Homem de Mello lá se dirigiu até Coura. Ao apear-se em Castanheira, a noite fechara-se completamente. Apenas reparou no amigo quando ele foi ao seu encontro, agitando uma lanterna.

Por caminhos sinuosos e cheios de charcos, numa viagem que diz ter durado hora e meia, com os pés e sapatos ensopados em água, eis que a lua, por entre oliveiras, surgiu subitamente. Notou assim que se encontravam á beira de certo portão antigo, com pedras de armas no topo. Ao lado, sobre o caminho, havia um arqueado passadiço. Com a atenção centrada no portão, evocador e senhorial, o Bezerra apertou-lhe o braço levemente e disse-lhe, a minha casa é aqui.

Afinal o Diocleciano Bezerra morava na Casa de Vermoim e Pedro Homem de Mello foi vista ilustre desta casa senhorial, infelizmente hoje em avançado estado de degradação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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