Marta Lima é uma jovem conterrânea, com formação académica de Curso de Jazz no Hot Clube Portugal, que acaba de lançar um novo EP – denominado de “Postal em Branco”, que se sucede ao sucesso de 2023, o “Murmúrio”, estando disponível em todas as plataformas digitais.
“Postal em Branco” será tema de apresentação da cantora e compositora no próximo dia 7 de Fevereiro, num concerto imperdível no Centro Cultural de Paredes de Coura.
O facto desta curta duração marcar uma nova fase criativa da artista, levou-nos a querer conhecer melhor o seu trabalho e o motivo que a levou a prosseguir a sua carreira musical. A introspecção que a Marta faz questão de desenvolver nas suas composições poderá ser reflexo do seu íntimo, uma forma de se dar a conhecer ao seu público querido que, cada vez mais, a acompanha.
Algumas pessoas não têm conhecimento, mas tu consideras Paredes de Coura como a tua terra natal, quem são as pessoas que te fazem sentir especial na nossa vila?
Paredes de Coura é literalmente a minha terra natal, terra onde passei todos os meus natais. São muitas as memórias que tenho de toda a minha família reunida perto da lareira da Pensão Miquelina. Toda a minha família paterna me faz sentir especial. A pessoa que mo faz sentir mais é sem dúvida a minha avó Martinha Miquelina, mulher empoderada, cheia de energia, de coragem, de força, que me inspira todos os dias e contribuiu para eu ser quem sou hoje; mesmo que não tenha tido a oportunidade de conhecer, o meu avô Nelson Afonso da Cunha Lima que curiosamente faleceu no dia em que os meus pais se conheceram. Foram várias as histórias que me contaram do meu avô, homem exemplar que desempenhou várias actividades em prol da sua terra, Presidente dos Bombeiros, presidente da Assembleia Municipal, provedor da Santa Casa da Misericórdia, impulsionador da criação do campo de futebol do Courense; o meu pai, que me levou sempre a todos os Festivais de Paredes de Coura, me levou a passear no rio Coura e que me deu a conhecer todos os recantos e encantos do seu paraíso na terra. A minha madrinha Fernanda Silva Barbosa, professora de Físico-Química na Escola Secundária, o seu marido Dr. João Pereira (Janeca), o meu tio Carlos Lima, a minha tia Guidinha, a minha tia Mila, os meus primos todos (que são alguns). Estas são as pessoas que têm um lugar no meu coração e que me viram crescer.
Pelo facto de teres raízes que te ligam a Paredes de Coura, sentes que isso altera a forma como vês a tua futura apresentação cá?
Claro que sim! Apresentar-me em Paredes de Coura tem um peso emocional muito grande, porque sei que vou estar diante de pessoas que conheço e de familiares que nunca me viram em cima de um palco. Vai ser uma surpresa para eles e, ao mesmo tempo, a realização de um sonho para mim. Sempre vi a “terra do rock” com muito respeito, sempre que ia ao festival vibrava muito com as bandas que não conhecia, mas que depois acabavam por ser descobertas incríveis. Numa edição convidei as minhas amigas do Algarve a virem até ao “Couraíso” só para experienciarem a magia de Paredes de Coura. Conclusão, nas edições seguintes estávamos lá todas de novo. Por isso, regressar agora a esta terra, mas num lugar de destaque, é algo que me enche de orgulho e entusiasmo. É quase como fechar um círculo: do público que assiste aos grandes concertos para o palco, onde poderei finalmente partilhar a minha música com as pessoas que mais gosto.
O teu EP fala sobre existir um plano para todos nós, ainda que tenhas iniciado a tua vida musical muito cedo, esta ficou em segundo plano devido ao teu percurso académico, quando é que percebeste que era esta a tua vocação?
Se olhar para trás, percebo que a Marta em criança já tinha a certeza de que queria estar em cima de um palco, a cantar e a tocar. Tenho imensos vídeos que demonstram claramente o quanto eu vibrava com a música desde muito nova. Ainda assim, nunca cheguei a encarar a formação musical como uma primeira opção, porque me foi transmitida a ideia de que a música é algo essencial para o nosso desenvolvimento, pois estimula diferentes áreas cerebrais— mas apenas como um passatempo, não como uma profissão.
Com o tempo, porém, senti que a música não era apenas um hobbie para mim, mas sim uma parte fundamental da minha identidade. Ao longo dos meus estudos, fui percebendo que, por mais que me dedicasse a outras áreas, havia sempre esta paixão que me puxava de volta para o mundo da música. Foi nessa altura que decidi arriscar e procurar uma formação específica, mergulhando de corpo e alma para desenvolver as minhas capacidades enquanto cantora e compositora. Percebi, finalmente, que este seria o meu verdadeiro caminho — a minha vocação. E nesse sentido, acredito que há mesmo um ‘plano’ para todos nós, pois tudo se encaixou para que eu pudesse dar prioridade à música, mesmo tendo começado por seguir um percurso académico diferente.
Sentes que existe algum desafio particular de iniciar a carreira actualmente?
Muitos na verdade, hoje em dia é muito difícil iniciar uma carreira, principalmente quem não nasce num seio familiar onde à priori não existem artistas que os possam encaminhar, que foi o meu caso. Eu não tinha qualquer conhecimento, nem contactos que me pudessem ajudar, a minha mãe é advogada, o meu pai é engenheiro, não são pessoas que estejam por dentro da indústria. A única forma que eles tinham para me ajudar era investirem nos meus estudos musicais, e assim o fizeram não só em criança como já posteriormente à licenciatura, na escola de Jazz do Hot Clube de Portugal. Portanto, todo o caminho desbravado foi de certa forma “sozinha” nesse sentido, sozinha entre aspas porque esta jornada foi em conjunto com o meu irmão Afonso Lima que partilha a mesma paixão que eu e que, actualmente, faz parte da minha banda, é o guitarrista que me acompanha. O meu irmão foi quem descobriu o Hot Clube de Portugal e portanto frequentou-o primeiro, encorajando-me a seguir o caminho que realmente queria e a especializar-me na área. Foi durante os anos na escola de jazz que comecei a criar a minha rede de contactos e então quando lancei o meu primeiro EP (Extended Play que significa um trabalho que contém entre 4 a 6 músicas) decidi fazer o meu trabalho de pesquisa para saber que salas de espectáculo poderia contactar, os jornais e as rádios locais, todos os concursos para artistas emergentes, foi tudo muito à base desta pesquisa e de ir à luta para conseguir agarrar qualquer que fosse a oportunidade.
E no meu caso mesmo que tenha tido muitos desafios sei que no fundo sou privilegiada por ter pais que sempre me proporcionaram todas as possibilidades, que investiram na minha educação num todo, música, desporto etc, porque se viesse de uma família que não tem tantas possibilidades então ainda seria mais difícil, uma vez que tudo na indústria é caro. Ir gravar a um estúdio é caro, depois tudo o que envolve a finalização desse processo é caro. A promoção é cara. Isto tudo para dizer que sim, hoje em dia começar uma carreira é extremamente desafiante e requer muito trabalho, sacrifício e recursos.
A música é, para muitos, uma forma de introspecção. Consideras ser cada vez mais importante expor nas tuas composições as tuas próprias emoções?
Sem dúvida. Para mim, a música é uma extensão de quem sou e do que sinto. Quanto mais genuína e autêntica for a forma como expresso as minhas emoções, mais facilmente consigo criar uma ligação com as pessoas que me ouvem. Acredito que há uma certa magia em traduzir os nossos sentimentos em canções, porque, de certa forma, acaba por espelhar vivências e estados de espírito que são universais. No fundo, cada composição torna-se uma partilha íntima, quase como se convidasse o público a conhecer um pouco mais de nós.
Costumo dizer que compor é a minha terapia, para conseguir não só expressar-me como entender certas emoções e ajuda-me inclusive a fechar capítulos.
Quais são os teus próximos passos na carreira musical?
Depois de todo o trabalho de composição, produção e das emoções intensas que envolveram a criação de ‘Postal em Branco’, a minha prioridade agora é levá-lo ao maior número possível de pessoas. Quero percorrer o país, de norte a sul, apresentar estas novas canções ao vivo e sentir a reação do público em cada sala. Apesar de já ter algumas músicas preparadas para aquele que será o meu primeiro álbum, decidi dedicar o primeiro semestre do ano à estrada, focando-me nos concertos que já tenho agendados e, quem sabe, abraçar novas oportunidades que possam surgir. Acredito que esta fase seja fundamental para solidificar o meu percurso musical, ganhar mais experiência em palco e fortalecer a ligação com o público, antes de entrar em estúdio para começar a produção do álbum completo. Tenho muita vontade de continuar a compor, gravar e, acima de tudo, partilhar música com todos aqueles que me acompanham. Ainda há muito caminho pela frente, mas sinto que esta tour e a exposição a diferentes plateias são o passo certo para me afirmar ainda mais enquanto artista emergente.