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O VALOR DE UM EMIGRANTE

7 de Agosto de 2018 | Helena Ramos Fernandes
O VALOR DE UM EMIGRANTE
Opinião

 

Passei há uns dias por uma daquelas páginas na internet que nos tentam passar alguma informação, a qual achamos à partida completamente inútil, mas que, por vezes, até nos faz pensar se olharmos com mais atenção. Estou a referir-me a uma página que dava umas dicas sobre como receber bem os convidados em casa.

Apesar das supostas banalidades escritas, fez-me parar um bocadinho para pensar ao transpor essa realidade para um campo mais vasto. Estou a falar dos nossos emigrantes, sendo que a casa é o concelho que os viu nascer e partir. Lembro-me de que, há um ano, vários municípios tiveram a canseira de alindar ruas e rotundas por esta altura. Tiveram o cuidado de limpar mais os cantos à casa. Tenho visitado vários concelhos nos últimos tempos e, curiosamente, este ano já não noto tanta dedicação como no ano passado. Alguma razão em especial? Quero acreditar que se tratou de um lapso. De um simples esquecimento. Mas não é normal assistirmos a um fenómeno raro de esquecimento colectivo. O que faço é tudo por tudo para não acreditar que o ano passado tudo aconteceu por ter sido ano de eleições autárquicas.

Os nossos emigrantes, tal como convidados em nossa casa, têm o direito de ser recebidos bem. Aliás, muito bem! Devemos ter os melhores tecidos espalhados pela casa, assim como os melhores perfumes. Devemos aproximar os convidados e apresentá-los. As autarquias têm apostado realmente nisso? Por vezes não chega apenas fazer uma festa dedicada ao emigrante. Não basta montar uma tenda com standes e música e já está. Exige-se mais! Há todo um grau de profissionalismo e de empenho em mostrar que estamos com ele, que ainda falta neste Alto Minho, que todos os anos recebe por esta altura a nossa diáspora. Mas, para isso, é necessária imaginação e criatividade. Só que por um ou outro qualquer motivo, isto não está a acontecer. Pelo menos este ano. Estará guardada para 2021?

Há quem tenha o gosto de oferecer, por exemplo, os cartões do menu aos convidados. E servem como lembrança para levar para casa. E nós? E os municípios? O que oferecem aos emigrantes para levar para casa? Apenas memórias? Apenas recordações de uma tenda e odor a chouriço assado? Exige-se um pouco mais. Numa altura em que Portugal dá agora passos em frente perante a Europa, é tempo de aguçar o apetite de toda essa gente: ou regressar ou então investir no nosso país, na nossa terra. O emigrante pode e deve ser um trunfo precioso para alavancar a nossa economia. É imprescindível que se faça um pouco mais para que estes queiram investir na terra que os viu nascer. A gestão municipal não é coisa fácil. Principalmente quando as verbas não chegam para tudo. Estimular a vontade de comprar e investir nessas alturas de maior afluência, faz parte dessa gestão. E é muito bem gerida por alguns municípios, destacando o nosso. Também é verdade que em tempo de eleições existe uma maior flexibilidade do poder central na atenção que presta aos municípios. E também é verdade que algumas competências não passam pelo município, como é o caso da limpeza das bermas das estradas nacionais. Neste caso é da responsabilidade das infra-estruturas de Portugal, uma entidade de carácter nacional. E como munícipe atenta, tenho plena certeza da insistência do nosso município perante esta entidade competente para proceder a limpeza das bermas das nossas estradas. Mas continuo a dizer que podemos e devemos fazer um pouco mais. É imprescindível voltar em força ao mercado da saudade! Um sentimento bem português! E que levou milhares de famílias emigrantes a voltar à sua terra. A minha foi uma delas. E nessa altura era bem visível o valor do emigrante!

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