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PORQUE SOMOS DE CARNE E OSSO

10 de Outubro de 2018 | Helena Ramos Fernandes
PORQUE SOMOS DE CARNE E OSSO
Opinião

No meio de uma das minhas pesquisas de trabalho, deparo-me com um tema polémico: Inteligência artificial. Por insistência minha, surge-me o nome de Ishiguro, professor na Universidade de Osaka, no Japão, e diretor de um prestigiado laboratório de robótica. Segundo o jornal Público, e depois de uma visita ao nosso Pais no início de 2018 para dar uma conferência na Universidade Católica, em Lisboa, sobre o tema em questão, Ishiguro revelou algo que talvez já não seja novidade para ninguém. Ele acredita que daqui a duas ou três décadas as empresas irão interessar-se na criação e comercialização de robôs androides. Mas o que mais me despertou o interesse foi o facto de ele apontar a “consciência artificial” como o campo a explorar no futuro.

Inteligência ou consciência? Qual deles é para nós mais importante? Para mim, não tenho dúvidas. A inteligência é muito importante. Mas a consciência é ainda mais.

Para o caso da criação de robôs androides, talvez os dois, mas com maior foco no segundo! E para si, caro leitor? Acredito que também tenha a minha opinião! Ou talvez não! Apesar da perplexidade do assunto em questão e das diferentes opiniões sobre este tema tão polémico quero acreditar que esta decisão será tomada em consciência. Na consciência assente na ética, na moral e nos princípios.

Obviamente que não serei eu a desvendar esta questão. O certo é que não tenho como fazê-lo. Mas para mim é incontestável o facto de que as duas devem permanecer bem próximas. E talvez considere que a consciência deva ser a característica mais importante na criação de robôs androides. No entanto não passa de uma consideração. Sem qualquer base científica. Esta advém da leitura que eu faço a sociedade actual. De como esta desvaloriza o que a consciência tenta transmitir.

Criar robôs com consciência! Esta possibilidade desperta em mim um misto de esperança e de desilusão também! E porquê? Porque olhando para o presente, vejo uma sociedade em que o mais importante é a sobrevivência individual, familiar ou grupal, em um sistema onde prevalece a importância do dinheiro e do poder. É cada vez mais difícil identificar atitudes altruístas por parte do ser humano sobre os problemas que assolam a sociedade actual. Esta observação pode parecer radical. Talvez seja! Mas continua a ser a minha opinião.

Apercebo-me do trabalho que alguns desenvolvem sobre temas em que a consciência é soberana na atitude a tomar. Mas infelizmente percebo, na maior parte das vezes, que o dinheiro, e por vezes o poder, se esconde por detrás de tais atitudes. E que a inteligência desprovida de consciência está quase sempre presente. Apercebo-me que em muitas dessas ocasiões estes seres de carne e osso tomam decisões apostando sobretudo na sua inteligência. E, infelizmente, evitando de forma racional que a sua consciência influencie essas mesmas acções.

Não vou nem quero apresentar exemplos de situações que me despertem esse tipo de sensação. Sem qualquer motivo escondido, somente e simplesmente porque não passam de sensações. Poderia apontar as questões ambientais…as guerras e guerrilhas…as decisões políticas…o desrespeito por tudo e por todos quando o nosso umbigo é quem mais ordena…Tanto haveria a dizer. Tenho a certeza que o leitor terá um exemplo pronto a disparar no seu cérebro. Tenho a certeza disso!

Mas voltando a abertura desta minha crónica, ao mundo da artificialidade futuro, com o aparecimento dos robôs andróides, relembro uma frase do passado mas deveras conhecida. “Penso, logo existo!”. Pense sim, caro leitor! Pense em consciência, sobretudo porque somos de carne e osso.

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