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QUOTIDIANO

12 de Janeiro de 2019 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Ainda na Guiné-Bissau, gostaria de deixar uma imagem fortalecida pelo futuro num país tão frágil nas suas mais elementares infraestruturas.

E de tantas fragilidades, a esperança reside na educação de crianças e jovens, uma vez que existe o apoio de organizações internacionais, com destaque para a cooperação portuguesa, que neste país precisa de ser mais ampla do que noutros países de língua oficial portuguesa.

Uma das imagens que mais me surpreenderam foi precisamente a de alunos, dos ensinos básico e secundário, reunidos na rua, junto ao Ministério da Educação, tendo por habitação tendas de protesto pelo facto de os seus professores estarem há muito tempo em greve.

Sim, há meses, numa total fragilidade do que deveria ser elementar numa sociedade em demorada construção.

E quando essa construção é feita com areia movediça, no lugar dos materiais que lhe deviam garantir a solidez, algo está completamente errado.

Uma outra imagem diz respeito às crianças sujeitas a crenças marcadamente conservadoras, alimentadas pela comunidade, sujeitas ao poder de uma religião animista, no prolongamento de práticas sociais tidas como inaceitáveis.

São as crianças “irã”. Procure o leitor alguma informação na Internet e ficará, decerto horrorizado.

Quer dizer – e é tão difícil admitir tais práticas – que as crianças nascidas com deficiência mais profundas, as crianças gémeas (e neste caso, o mais forte é o que será colocado em causa), as crianças albinas e as crianças que sejam consideradas feias são simplesmente eliminadas.

Outras crianças, tidas como tomadas por espíritos, são abandonadas junto de vários perigos e se resistirem a uma noite de teste são aceites socialmente.

Ouvi vários relatos desta situação e a alma dói mesmo perante esta absurda realidade.

Não há palavras a dizer, apenas a dor que é sentida e prolongada pelos dias que parecem ter razão para não existirem.

Mas o futuro poderá contrariar esta situação se a educação das crianças for um direito consagrado neste país de tantas contradições.

E há motivos para sorrir.

O país está na rota de valorização dos direitos das crianças e jovens, estando muitos cooperantes no terreno a lutar contra crenças que não podem existir jamais.

Aceitar as crianças, tal como elas são, nas suas diferenças, é o primeiro passo que está a ser dado com algum realismo.

Colocar as crianças em creches e jardins de infância, e depois em escolas do ensino básico e secundário (sendo, atualmente, a escolaridade obrigatória até ao 6º ano de escolaridade), é outro importante passo que começa a ter razão suficiente para ser dado de modo mais generalizado.

E com esses dois passos tudo poderá ser alterado.

 

 

 

 

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