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QUOTIDIANO

7 de Fevereiro de 2018 | José Augusto Pacheco
QUOTIDIANO
Opinião

Apesar de ter começado umas décadas depois no concelho de Coura, o folclore, surgido no ano de 1958, nas festas do concelho, com a organização de um concurso de rusgas, deu palco a muitas pessoas, especialmente a cantadeiras, músicos, dançadeiras e dançadores.

De todos os dançadores do concelho, houve um que foi ímpar na sua nova profissão, que acumulava alegremente com a atividade de jornaleiro, se bem que gostasse muito mais de dançar do que andar diariamente para um patrão diferente.

Dançar era o seu ofício.

Era magro e alto. De pés leves voava em cada dança, soltando braços e pernas como ninguém, em movimentos rítmicos graciosos e vistosos, sonorizados pelas castanholas que tocava com redobrada energia, arrancando aplausos intermináveis do público.

Única e simplesmente ele era o palco, sentia-se no céu, sem pecado algum e tinha o reconhecimento de todos.

Admirado, quase se endeusara e com esse capricho ele era a voz, decidindo quem dançava, quem tocava e quem cantava.

Tornara-se o centro das atenções e muitos dançadores de outros ranchos, inclusive de fora do concelho, faziam tudo para assistir às suas exibições públicas.

Um dia, tal era a sua fama, estava Pedro Homem de Mello, de carne e osso, em Coura, a assistir à exibição do rancho, pois tinham-lhe dito que de modo algum poderia desconhecer este homem tão badalado no mundo dos ranchos folclóricos.

No final da exibição, sempre brilhante, o homem do folclore, tão conhecido pelo seu programa de televisão, deu-lhe os parabéns e convidou-o para beber um copo, na taberna da esquina.

Atónitas, as pessoas, presentes no largo da feira de cima, assistiram à conversa entre os dois homens – no confronto entre a teoria dos livros e a prática da experiência – e mais atónitas ficaram quando ouviram o dançador de Coura tratar o douto Pedro Homem de Mello por tu, numa familiaridade que apenas o amor ao folclore tornara possível.

Sempre que estava perto de Coura, o homem da televisão lá dizia, por telefone fixo ou por recado de algum amigo, que vinha a Coura ou então que estaria num concelho vizinho.

E os dois amantes do folclore encontravam-se, fumavam dois cigarros de conversa e despediam-se com um longo e sentido abraço.

Ficaram eternamente amigos e o dançador de Coura tornou-se num justo embaixador do folclore do concelho.

 

 

 

 

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