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QUOTIDIANO

5 de Junho de 2018 | José Augusto Pacheco
QUOTIDIANO
Opinião

 

Llerda, Lérida e Lleida são três palavras para designar a mesma cidade.

Se a primeira serve para a origem romana, a segunda caracteriza o tempo castelhano e a terceira revela a alma catalã de uma cidade que tem reclamado com ardor e veemência a sua independência em relação a Espanha.

Porém, nos três dias que transitei pelas ruas do centro histórico, dominado pela catedral-fortaleza do século XIII, que também é a Sé velha, e pelo castelo muçulmano La Suda, poucos sinais pude visualizar, sendo que nesses locais apenas a bandeira da União Europeia flutuava nas tardes frias dos Pirenéus, com alguma chuva, que de tão bruta ser, levou um poeta a dizer que nesta região a chuva não sabe chover.

Falando com pessoas da rua, notei o silêncio de uma luta republicana de independência que se torna mais violenta pelas imagens televisivas. Um taxista disse mesmo que era contra, discordando do alarido, mas uma empregada de café, exibindo na blusa de uma avançada primavera o laço amarelo, sinal de uma vontade bastante partilhada, não precisou de falar para dizer de que lado estava. Já o empregado de hotel falou-me do erro de haver uma luta que pode prejudicar a economia da região.

Numa viagem de uma hora, num comboio de grande qualidade, com um controlo apertado da bagagem, como se estivesse a passar por um aeroporto, cheguei à cidade de Barcelona. E aqui a realidade é outra.

O laço amarelo está por todo o lado, a bandeira da Catalunha exibe-se ufanamente nas varandas dos prédios e o ar que se respira é de um ambiente algo pesado, apenas contrariado pelos estrangeiros que caminham pela Rambla, fazendo de cada espaço da rua um redemoinho de pessoas em trânsito: abunda o comércio de turistas, passam os polícias superarmados, correm as crianças pelos skates rápidos, demoram-se os velhos nos passos de uma vida em esgotamento, entreolham-se cumplicemente os pares de namorados, sorriem as vendedoras de flores, palavreiam os angariadores de clientes para as esplanadas, exibem-se os artistas em esculturas humanas supercriativas, flutuam as camisolas do Barça e estendem-se as mãos dos pedintes.

Tudo é um fluxo de pessoas como se não houvesse um problema político a ser resolvido, pois não é possível continuar com o diálogo de loucos, como bem me evidenciou um colega de Lleida.

E Catalunha bem merece esse diálogo, não sendo possível esquecermos – nós, os portugueses – que a independência de Portugal, com a Restauração, em 1640, muito deve à revolta da Catalunha, que foi ostensivamente massacrada pelo exército castelhano.

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