Última Hora

Quotidianos

10 de Fevereiro de 2016 | José Augusto Pacheco
Quotidianos
Opinião

Vivemos tempos de grande distanciamento afetivo. E foco dois casos.

Veja-se o drama em torno dos refugiados que diariamente chegam à Europa, como se a desumanidade fosse um mero facto que nos insensibiliza totalmente e nos impede de raciocinar de uma outra forma.

Todos sabemos que a guerra é o acontecimento mais terrífico que há e que a sua inclusão no pensamento das pessoas é uma constante histórica, mais ainda quando habitamos o continente europeu, palco de guerras em todos os seus séculos de existência.

De facto, os países europeus tiveram contínuas, longas e sangrentas lutas que permanecem ainda de forma persistente nas memórias coletivas, de que a história se encarrega de recordar periodicamente.

Quando alguém decide partir, deixando para trás o seu espaço, a sua comunidade, os seus familiares, e enfrenta a incerteza da viagem, a ganância dos traficantes e a insensibilidade dos outros, em que situação fica?

É lamentável que países europeus ergam muros de segregação social e confisquem bens àqueles que estão numa situação de extrema penúria. A tal jornalista que pontapeou um refugiado quase foi convertida, por certos grupos xenófobos, numa heroína, mas seguramente nunca passará de uma heroína de pacotilha.

O outro caso refere-se aos muçulmanos. Por causa de um extremismo religioso, de um suposto estado islâmico, a que chamam Daesh, a perseguição tornou-se numa política de Estado. Quando se tenta compreender a realidade política que existe no Médio-Oriente, a primeira ideia a discutir será a da segregação social de jovens, que promove a radicalização religiosa como arma de guerra utilizada no profundo silêncio dos medos que existem hoje em dia.

Para além de sabermos que os déspotas são sempre uma construção social, fruto de políticas falhadas, temos agora de aprender que a educação tem fracassado redondamente na formação humana e que, desse modo, a barbárie tem formas de voltar a existir.

E quando a barbárie – incorporada nos mais hediondos crimes que, inocentemente, ceifam vidas de tantas pessoas – se instala como modo de pensar e agir entre nós, a sociedade fica mais pobre e moribunda em termos de princípios e valores da formação humana. A sociedade morre nos seus valores e torna-se insensível, como o desumano fosse a regra a seguir na convivência entre os povos. Mais grave ainda é que a escola, o desejado lugar de formação humana, é uma máquina avariada nas suas intenções de integração social.

Não quero acreditar numa situação de barbárie perpétua, pois acredito no entendimento entre os povos, ou seja, uma visão justa e equilibrada do que significa viver em sociedade.

E infelizmente não estamos a saber fazê-lo.

 

 

 

 

 

 

Comments are closed.