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QUOTIDIANOS

18 de Julho de 2018 | José Augusto Pacheco
QUOTIDIANOS
Opinião

O lançamento do livro “Estimei ver-vos”, de Carminda Gonçalves da Costa, que decorreu no Arquivo Municipal, a 11 de julho, foi um momento raro de uma cumplicidade de amizades que se cultivam para sempre.

Se o conteúdo contém informação, de enorme interesse histórico, sociológico e antropológico, que sempre se mantém preso a narrativas de vida, seja na forma de crónica, seja na escrita de textos soltos ou de diários, como salientou Vítor Paulo Pereira, o livro reveste-se de um enorme interesse para o estudo de muitas vivências de Coura que atravessaram, quase por inteiro, o século XX e chegaram ao final da década de 2010.

Os 55 textos do livro, cheios de memórias e de palavras ditas e agora escritas, esperam pacientemente pelos leitores.

É também com estes quotidianos, “que tem préstimo para sair em livro”, para contrariar a autora, que se faz a história dos eventos e acontecimentos, com as pessoas e mais os seus espaços geográficos de vida.

Mas a ida ao Arquivo Municipal é sempre um bom desafio. Desta vez, pude ver a exposição “Retratista e fotógrafos de Coura (sécs. XIX – XX)”, que sinaliza os dez anos deste excelente espaço do conhecimento.

Houve duas fotografias que chamaram a minha atenção: uma mais pessoal, onde está o meu pai, Arnaldo Pacheco, como motorista da Courense, acompanhado de outros colegas; a outra de 1945, de Manuel Guilherme, com uma vista geral da Vila no ano de 1945.

Tenho de dizer que é notável esta fotografia. E por vários motivos. Um deles é certamente a grande angular que oferece da Vila e seus arredores, com destaque para os lugares de Santa, Lamamã e Afe, bem como para as freguesias de Moselos, Padornelo, Insalde e Parada (um pouco).

No centro da fotografia estão o templo do Espírito Santo e a Igreja matriz, a dita igreja velha, que foi demolida (num crime arquitetónico inigualável no concelho) no ano de 1958.

Também estão lá bem visíveis os edifícios da Câmara Municipal, da Cadeia, da Casa Bacelar/Martins, outros edifícios da rua principal, a escola primária, o hospital da Misericórdia, a Casa do Coucieiro (atual Arquivo), a Casa Grande e o primeiro edifício da Courense, um barracão à sua primeira dimensão de uma empresa de uma pequena vila do Alto Minho.

O pelourinho também aparece junto ao jardim, que já tinha como centro um lago, que se manteve até bem tarde na fisionomia da Vila, tendo passado para o lugar que está hoje na década de 1950.

Olhando mais em pormenor, vê-se a Casa da Veiga, hoje Museu, que estava dentro da Vila, e os campos, tal como os conheci na minha infância, lá estão, sobretudo os de Rande, cujo caminho é possível identificar facilmente.

O que sobressai é a natureza profundamente rural desta parte do concelho, tal como o restante, com os campos cultivados e delimitados por razões de intensa divisão da propriedade, como é típico numa economia de subsistência. A agricultura reinava e determinava o ritmo dos courenses.

A foto destaca de forma muito viva essa evidência, dando nitidez à delimitação desses campos, como se fosse uma tela pintada de terra arduamente trabalhada.

 

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