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14 de Janeiro de 2020 | José Augusto Pacheco
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Ainda de um modo não muito consistente e profundo, fiz uma viagem documental, via online, aos registos paroquiais, mais concretamente dos assentos de batismo, de paróquias que deram origem à minha família, quer pelo lado Pacheco, de meu pai, que nasceu em Ferreira, e tem avós de Fontoura (Valença), quer pelo apelido Brito, de minha mãe, nascida em Paredes, com avós de Paredes e Cristelo e visavós dos Arcos de Valdevez.

Mesmo que nem todos os registos sinalizados online estejam disponíveis, é possível, com a documentação consultada, chegar aos tetravós e foi nessa pesquisa, mais afetiva que histórica, no sentido de uma reconstituição de famílias, que obriga à consulta de outros registos, sobretudo dos de óbito e casamento, para desse modo entrelaçar nomes e terras de origem, que constatei a existência de um alfobre de dados, dados esses que, uma vez lidos e trabalhados meticulosamente, poder-nos-ão proporcionar a geografia de origem do concelh0 de Paredes de Coura, a partir dos finais do século XVI, pouco tempo depois da sua fundação, em 1515.

Assim, podem ser traçadas linhas de movimentação de pessoas, de modo a termos uma visão mais holística sobre a afirmação do concelho como terra de vida, com profissões várias, com predomínio para a lavoura, e com descrições sociais que não passaram despercebidos aos párocos, tão exímios na sua condição de registadores-mores.

Da leitura de vários assentos de batismo, já pude constatar uma primeira hipótese explicativa: o desenvolvimento do concelho, depois da sua génese, é feito num entrelaçamento de pessoas oriundas de muitos concelhos vizinhos e de muitas localidades mais distantes, bem como numa mobilidade interna muito acentuada ao nível das paróquias.

Mas esta possibilidade, meramente intuitiva, precisará de um trabalho árduo e meticuloso, para que essa tal hipótese possa ser infirmada ou validada.

Outra questão que me despertou grande interesse relaciona-se com a linguagem utilizada, sendo notória a diferenciação social, com clara identificação dos pobres, dos mendigos (muitos da Galiza), das mulheres solteiras e dos expostos.

Nos assentos de batismo, há uma evidente poligamia oculta, e aceite socialmente, que revela a problemática dos pais incógnitos e dos filhos da roda, sendo interessante conhecer a sua ligação às profissões, já que vamos conhecendo o que as pessoas faziam e onde viviam.

Uma outra situação que encontrei revela o realismo social dos assentos. Todos os nascidos eram batizados, a ninguém seria recusada essa possibilidade, mas quando há registo que diz isto – nasceu…, filho de…, concubina, teúda e manteúda, de…, casado com…, morador na paróquia de… – que conclusões podemos retirar sobre a diferenciação social?

Os registos revelam as pessoas que nasceram, viveram, casaram e morreram neste concelho de Paredes de Coura, e identificá-las, por paróquia, é uma tarefa gigante, muito embora a reconstituição das famílias deva ficar para aqueles que sintam a necessidade de conhecer as suas origens.

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