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12 de Janeiro de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Passou, demoradamente, o ano de 2020 e, rapidamente, o ano de 2021 manteve a anormalidade que conhecemos há dez meses, causada pela pandemia de Covid-19.

É isso mesmo: quase tudo foi virado de pernas para o ar e parece que assim ainda ficará por mais algum tempo, quando todos já imaginávamos, depois da utopia da vacina ter virado realidade, o fim de tal terrível flagelo.

Parece que o regresso do acentuado contágio pandémico, com números preocupantes para o funcionamento do serviço nacional de saúde, nos desfez o sonho de um certo alívio, com prazos já definidos para o regresso ao dito normal que então marcava o ritmo das nossas vidas.

A uns dias de um certo e justo relaxamento, em que reinou o espírito da festa natalícia e da passagem de ano, sucederam-se, ou estão ainda a acontecer, e não se sabe até quando, dias difíceis, a que nenhuma faixa etária escapa, embora a taxa de letalidade seja marcadamente diferenciadora.

É certo que todos nós aprendemos a viver com a pandemia e à medida que foi evoluindo como um ataque – primeiro, de um lobo, depois, de um cão rafeiro e, presentemente, duma esfomeada alcateia –, adaptámo-nos, seguimos as medidas certas de segurança sanitária, incluindo o uso da máscara, a realização da higiene das mãos e o cumprimento do distanciamento social, e tornámo-nos jogadores de risco dentro de um labirinto.

O contágio está junto de nós, persegue-nos, convida-nos e desafia-nos a prevaricar, como algo que escorrega por entre os dedos inseguros das nossas mãos. E se acontece o indesejado contágio é porque há fatores que jamais controlamos, recusando-me a acreditar na ideia, partilhada pela faixa etária dos adolescentes, de uma imunidade adquirida e com efeitos assintomáticos.

Somos do tempo não só das coisas normais, das coisas que acontecem sem a exigência de grandes explicações, como das coisas tremendamente banais e das coisas supostamente corriqueiras, já que o medo de ser e de existir parece ter sido esquecido e atirado para as costas dos nossos avós e dos nossos pais.

Porém, encontramo-nos ainda dentro de um terrível labirinto, jogando o jogo dos perdedores e não o dos ganhadores, porque para este vírus, que também aprende a adaptar-se aos humanos, criando as denominadas variantes, como se verdadeiramente quisesse adquirir vida humana, há um tempo longo e sofredor de destruição pessoal e social.

Resta-nos acreditar que a primavera trará o sonho, que se realizará somente no verão, para ficarmos livres do pesadelo que tem sido esta pandemia.

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