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23 de Março de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Da imprensa local já muito se sabe, se bem que não constem do arquivo municipal todos os números publicados até hoje. Por exemplo, em relação ao primeiro jornal concelhio JORNAL DE COURA apenas existem nove de 40 números, e do seu irmão gémeo (do qual falaremos brevemente) – JORNAL DE COURA- GUARDA NOVA – somente resta um dos 38 números.

Mas é possível ler, o que fiz através do endereço virtual do Arquivo, o número 1 do Jornal de Coura, dado à estampa a 1 de dezembro de 1895, tendo como” redatores “Dr. B. Chousal e Padre Casimiro R. de Sá”, como “editor responsável Padre Alfredo Machado” e por “proprietário João de Sousa Lobo.”

Ocupando uma das quatro colunas da primeira página, há uma explicação para o seu aparecimento. Na rubrica “A que vimos” (sem identificação alguma, pelo que os redatores são os seus verdadeiros autores), é dito:

“Vimos trazer a luz da imprensa, o facho do progresso e o farol da ilustração aonde até hoje ainda não haviam brilhado. Vimos advogar os interesses locais de Paredes de Coura, propugnar pelos melhoramentos a que tem incontestáveis direitos pela sua riqueza agrícola, pelas atividades dos seus habitantes e pela sua posição topográfica … Vimos, finalmente, preencher uma lacuna, porque esta vila é a única sede das comarcas do distrito de Viana do Castelo onde não havia órgão jornalístico” (ortografia alterada).

Mais é dito: não vimos para a política, mas se um dia … não vimos com ideais de fazer da imprensa estendal de imundícies…

As outras colunas da primeira página são preenchidas com um texto assinado por alguém identificado por “I”, ainda que pelo seu fervor religioso não seja difícil de adivinhar, sobre o 1º de dezembro de 1640, pelo que o lema do jornal, não tendo sido escrito, poderia ser bem este: Religião e Pátria.

Aliás, a noção de Pátria está presente numa breve notícia sobre a guerra de África e neste apontamento; “partiu para as nossas possessões africanas, onde é comerciante muito acreditado, o nosso conhecido amigo snr. António Ribeiro Guimarães, da freguesia de Padornelo”. Ou seja, a Pátria era um todo, sendo indiferente dizer Angola ou Moçambique ou Guiné Bissau ou S. Tomé e Príncipe ou Cabo Verde.

Há ainda a notícia do Asilo dos Órfãos, com subscrição de beneméritos courenses residentes no concelho e em terras brasileiras, cuja abertura oficial foi anunciada para o dia 1 de janeiro de 1896, porque “dar aos pobres é emprestar a Deus”.

Nesse tempo era presidente da Câmara Municipal o conselheiro Miguel Dantas, tendo como vereadores José Maria Alves da Costa e Manuel Joaquim Barbosa.

Em Miguel Dantas fala o jornal mais duas vezes: a primeira, na transcrição de palavras elogiosas dirigidas ao secretário da Câmara que se aposentou, de seu nome Francisco Augusto Rodrigues, que recebera do governo o hábito de Cristo; a segunda para registar que “partiu no domingo para Viana do Castelo, regressando no mesmo dia”.

Mas há mais coisas a dizer deste primeiro número da imprensa courense.

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