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7 de Dezembro de 2021 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Quem não conhece a pagela sobre o Beato Redento da Cruz?

Este courense, nascido no lugar de Lizouros, em 1598, paróquia de Santa Maria de Cunha, outrora Santa Maria da Colina, recebeu o nome de Tomás Rodrigues da Cunha e viveu a sua meninice e tenra adolescência por entre gente pobre e fidalga.

Como relata o opúsculo, de 1928, denominado “O Beato Redento da Cruz. Carmelita Descalço,” deixou a ruralidade de Coura e assumiu, corajosamente, a condição de mártir nas orientais terras do império português. Tudo aconteceu no asiático lugar de Achém, próximo de Malaca, uma das longínquas feitorias que as navegações tornaram possíveis.

Abandonou tudo e todos, despojando-se de bens terrenos, bebendo todo o fervor religioso, que apenas os primeiros filhos de tais casas, abrasonadas ou não, poderiam dispensar, já que deles dependia a manutenção dos privilégios através da não dispersão do património.

Nascido na sua fidalga condição, de onde brotaram famílias sem nunca, em tempo algum, terem em sua geração fama alguma de mouro, nem de judeu, e como filho segundo, de instrução rudimentar, sem sinal de amor às letras, mas afável, comunicativo, conceituoso, diz ainda o narrador, Redento da Cruz tinha em suas vigorosas veias sangue de conquistadores e guerreiros, que dele fizeram soldado embarcado das naus da Índia, tendo por primeiro destino a outrora viçosa cidade de Goa.

Destemido soldado, de muitas batalhas, foi nomeado capitão e logo recebeu o chamamento, pela divina graça, para se alistar na milícia de Cristo, no convento de Carmelitas Descalços, descalçando-se, assim, da vida mundana, desapossando-se do seu nome, e abraçando, com extrema dedicação religiosa, a perfeição monástica.

Redento da Cruz – pequena estatura, rosto moreno, comprido, magro, barba rala e negra, como o cabelo, fronte calva e enrugada, ardente de martírio, tal como os Carmelitas o descreveram – foi aprisionado, escravizado e morto, por setas, espadas e lanças envenenadas, no ano cristão de 1638. Mais tarde, pelos idos anos de mil e novecentos, foi declarado Beato.

Muito mais se pode ler no tal opúsculo, por exemplo, o registo pormenorizado da sua coragem perante a morte, o seu desprendimento terreno e a sua extrema religiosidade. Porém, há uma questão, nesse dito livrinho, que custa a aceitar, e que vai contra o seu último pedido, embora reproduza a imagem oficial que foi cinzelada pelos Carmelitas.

O retrato de Redento da Cruz é de meio corpo, de rosto saliente, mostrando uma mão com pingos de sangue, brotando de uma espada, quando ele mesmo disse: “Se eu for martirizado, pintai-me com os pés fora do hábito para que todos entendam que sou Carmelita Descalço.”

 

 

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