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Receio de tossir

10 de Março de 2020 | Helena Fernandes
Receio de tossir
Opinião

E vocês, caros leitores, também têm sentido receio de tossir em público? Um receio, que até pode ser compreensível, se a causa for não querer ficar em quarentena.

Eu, caros leitores, sinto que nos tempos que correm, poucos são os que não se incomodam em transmitir qualquer tipo de sintoma de gripe ou constipação quando estão junto de outras pessoas.

Estive em Paris no último fim-de-semana de Fevereiro. E, estranho ou não, vi mais máscaras (e apesar de poucas), do que pessoas a tossir ou espirrar. Aliás, não vi nem ouvi qualquer sintoma de gripe ou constipação ao meu redor. E digo-lhes que estive em vários espaços com algumas centenas de pessoas. Nem um espirro… nem uma tossidela… simplesmente nada! Quererá isto dizer algo de bom? Ou estarão todos os doentes em quarentena e impossibilitadas de conviver com os outros porque espirram e tossem?

Esta inibição de transmitir este tipo de sintoma, que ocorre naturalmente no Inverno, terá alguma coisa que ver com o receio de ser mal interpretado. Ou será algum tipo de pânico ou negação sobre a possibilidade de estar infectado pelo Coronavírus. Será este o motivo para tanto controlo ou saúde aparente? Ou será este comportamento resultante do medo em ser rejeitado ou discriminado pelos outros? Sim, caros leitores, discriminação!

Façamos então uma pequena reflexão sobre comportamentos e situações relacionadas com discriminação. Este comportamento de inibição perante um receio de ser ou parecer ser, leva-nos a pensar sobre todos aqueles que vivenciam algo do género. Sim, caros leitores, aqueles que sentem a discriminação dos outros, ou porque pertencem a uma minoria, ou porque estão doentes ou por outro motivo qualquer.

Alguém sentir que é discriminada, por qualquer motivo que seja, não me parece nem certo, nem sensato, nem tão pouco digno. E sê-lo porque se é, provavelmente ou não, portador de uma doença contagiosa, ainda é menos compreensível.

As atitudes e os comportamentos negativos, quando não são esperados, provocam danos que nem sempre são reparáveis. Não concordam comigo, caros leitores?

Sim à precaução e não ao preconceito e à discriminação!

Tentar vestir a pele de quem está numa situação deste género talvez possa atenuar este sentimento ignóbil que aparece de forma tão leviana por quem vive como se não houvesse amanhã. Um amanhã que talvez lhes ofereça realidades semelhantes ou até piores do que aquela que ontem foi repugnada por eles.

A mensagem que me ocorre passar nesta altura de alarmismos e receios, é simplesmente uma. Eu apelo a prudência, sem exageros e sobretudo sem discriminação. Porque hoje são eles e amanhã podemos ser nós!

“Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti”. Uma frase tão acertada e pertinente nesta e em muitas outras alturas.

Não discrimines caso não queiras ser discriminado. E talvez consigam deixar de, em público, ter o receio de tossir.

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