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Reflexão Psicológica

8 de Março de 2016 | Cláudia Pires Lima
Reflexão Psicológica
Opinião

A Criança e a Diabetes

Foi em 1500 anos AC que Ebers Papyrus efectuou as primeiras descrições acerca do que seria a diabetes.            Com todo o desenvolvimento, em 1921, Banting e Best obtêm e purificam as células pancreáticas estudadas por Langerhans retiradas do pâncreas de um animal, injectam-lhes o material (insulina) no animal diabético, e descobrem a falha no nível de açúcar no sangue. A diabetes é uma doença crónica de natureza metabólica, caracterizada por uma elevação anormal do nível de glicose no sangue – hiperglicemia –, que pode resultar numa elevada excreção de açúcar na urina – glicosúria. É através deste fenómeno que a diabetes adquiriu o nome científico: diabetes mellitus, que significa literalmente “doce que passa através de”, referindo-se ao elevado conteúdo de glicose na urina.

As crianças devem estar familiarizadas com a maioria dos órgãos internos, o aparelho digestivo e com o funcionamento do pâncreas. Além disso, devem saber igualmente quais os alimentos que podem ingerir e como viver a sua vida o mais normal possível conjuntamente com os seus amigos e colegas. Aqui é fulcral a presença constante dos adultos que os rodeiam, no entanto, esses adultos têm de estar munidos de informação.

Existem dois tipos de diabetes (Seabra, 1997): Tipo I ou insulinodependente, originados por uma destruição das célu­las “beta” pancreáticas; Tipo II ou não insulinodependente, cuja causa é a combinação de uma acção menos eficaz da insulina (resistência à insulina) com uma produ­ção insuficiente da mesma. A diabetes nas crianças e jovens é do primeiro tipo, ou seja, insulinodepen­dente (DID), sendo o seu início geralmente entre os 5-6 anos e entre os 10-12 anos (Cox e Gonder-Frederik, 1992).

Os principais sintomas que caracterizam o aparecimento deste tipo de dia­betes são: polidipsia (sede), polifagia (fome), xerostomia (sensação de boca seca), fadiga, prurido (comichão no corpo, sobretudo ao nível dos órgãos geni­tais), visão turva, dores de cabeça, náuseas e vómitos (numa fase mais avan­çada da doença) e poliúria (eliminação exagerada de urina).

Sendo a diabetes uma doença crónica, esta pode ser compreendida como um acontecimento de vida stressante ou perturbador que interage com uma pluralidade de ocorrências e condições de desenvolvimento (Barros, 1999). Neste sentido, a diabetes altera a vivência directa da criança de duas formas diferentes. Por um lado, expõe-na a experiências aversivas  (por exemplo, comu­nicação do diagnóstico, realização de exames, cumprimento dos tratamentos) e, por outro lado, impede-lhe ou limita-lhe a vivência de experiências de vida normativas, desejáveis e facilitadoras do desenvolvimento (por exemplo, dor­mir em casa dos amigos) (Goodyer, 1990, cit. in Barros, 1999). Convém, no entanto, salientar que algumas destas limitações sociais podem não advir pro­priamente da doença, mas sim das atitudes dos pais em relação às crianças, manifestando um excesso de zelo e protecção.

O diagnóstico da diabetes implica uma adaptação por parte dos familiares e da própria criança, sendo este um processo contínuo e dinâmico, com fases que oscilam entre o equilíbrio e aceitação, e a ansiedade, revolta ou depressão. Todo este processo é variável de indivíduo para indivíduo, influindo factores como as características da doença, da criança, da família e de outros elementos do meio.

Relativamente às características da doença verifica-se que existem alguns aspectos fulcrais que dificultam a sua adaptação. Destes destacam-se a gravi­dade, o curso imprevisível da diabetes, a utilização de métodos aversivos e complexos de tratamento, e as alterações no estilo de vida.

A idade e desenvolvimento cognitivo e social – características da criança – também são aspectos decisivos, uma vez que determinam a forma como a criança é capaz de interpretar, compreender e construir significações sobre a doença e o tratamento no seu contexto de vida (Barros, 1999). A capacidade para estabelecer relações sociais, bem como para resolver problemas, são carac­terísticas individuais que facilitam a adaptação. Uma criança é tanto mais capaz de lidar adequadamente com a doença, quanto maior for a sua capaci­dade de confrontar situações stressantes ou difíceis.

Relativamente às características da família é de salientar que esta tanto pode funcionar como um facilitador como, pelo contrário, constituir um gran­de obstáculo ao processo de adaptação à diabetes. Actualmente, é reconhecido pela maioria dos autores que os pais ocupam um papel privilegiado no desen­volvimento das atitudes e crenças sobre a saúde e a doença (Gochman, 1985, cit. in Barros, 1999).

 

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