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Tia Leta, 90 anos, mestra na costura e no amor ao próximo

14 de Janeiro de 2025 | Albano Sousa
Tia Leta, 90 anos, mestra na costura e no amor ao próximo
Destaque

Retomando a divulgação da rubrica Courenses com Hstória, nesta edição assentamos arraiais no número 23 da Rua 25 de Abril, na sede do concelho de Paredes de Coura. Abriu-nos a porta a locatária, Maria Julieta Carvalho Lages, 90 anos de idade. Oriunda da conceituada e numerosa família Lages, a tia Leta, como carinhosamente é conhecida, faz parte de uma prole de 10 irmãos.

Nascida em Resende, ali frequentou a escola primária, onde obteve o diploma da 4ª classe. Paralelamente aos estudos, havia os trabalhos de casa, em tempo difíceis e árduos. Assim, paralelamente com a escola, havia ainda necessidade de ir com o gado para o pastoreio.

Foi aqui que começou o gosto pela costura. Aproveitando os tempos de pastorear as vacas, gostava, enquanto criança, de levar uns trapos para fazer vestidos para as bonecas. Assim nasceu uma costureira de créditos firmados, tendo aprendido a arte sem qualquer mestra. Subindo a pulso, recorda que iniciou os primeiros trabalhos fazendo sacos e aventais para a Mariquinhas da Ramas, comerciante da nossa praça.

Recorda ainda que ministrou 3 cursos de costura, onde passou ensinamentos a dezenas de costureiras do concelho, chegando, ela própria, a ter 7 aprendizes ao seu serviço.

Com 3 máquinas na sala de costura, hoje, em cima das 90 primaveras, continua a receber clientes e a executar trabalhos na perfeição.

Ao longo da carreira diz ter feito imensos vestidos de noiva, com e sem cauda, para lá de inúmeros fatos, saias, casacos, entre outras peças. Nada lhe mete medo no âmbito da costura.

Adiantou ainda à nossa reportagem que fez toda as fardas da fanfarra dos Bombeiros Voluntários, para lá de, numa noite, ter feito 70 gravatas, também para os Bombeiros utilizarem no dia seguinte. Dei 70 nós de gravata numa noite, afiança a tia Leta.

Para lá da feitura dos mais diversos modelos de roupa, e conserto de outras, ainda executou, ao longo da vida, diversos trabalhos manuais, com destaque para os bonecos de trapos, que orgulhosamente possui na sala de costura.

Com mais de 8 décadas a trabalhar a roupa, a tia Leta aceitou ainda o desafio para integrar a equipa de voluntariado que, semanalmente, recolhe e entrega roupa e calçado a pessoas necessitadas, conforme reportagem efectuada pelo Noticias de Coura tempos atrás, chegando a trazer para casa diversas roupas para consertar.

Dizendo que adora fazer esse trabalho, faz ainda parte das equipas que, regularmente, colaboram no banco alimentar contra a fome, recolhendo bens alimentares nas superfícies comercias courenses.

Casada com Júlio Amorim dos Reis, conhecido cobrador de camionetas, em tempos idos, é mãe de 3 filhos e demonstra, apesar da idade, umas faculdades físicas e mentais a fazer inveja a gerações bem mais novas.

Não tendo no horizonte próximo a intenção de parar com toda a actividade diária, procurando dar continuidade às várias encomendas que tem em mãos, diz ter a ambição de chegar aos 100 anos, com promessa de festa rija.

Foi muito gratificante e enriquecedora esta conversa, com alguém que o concelho aprendeu a respeitar e a admirar. Parabéns, tia Leta.

 

 

 

 

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