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TREINADOR DO FUTSAL FEMININO DO CASTANHEIRA, JOSÉ TELES ADMITE

22 de Outubro de 2019 | Albano Sousa
TREINADOR DO FUTSAL FEMININO DO CASTANHEIRA, JOSÉ TELES ADMITE
Geral

“Plantel tem qualidade para conquistar tudo”

Novo treinador da equipa de futsal feminino do Castanheira, fomos ao encontro de José Teles e damo-lo a conhecer aos nossos leitores na entrevista que se segue. Campeão distrital em título o Castanheira decidiu esta época mudar de treinador, abrindo as portas a um homem que tem já um apreciável trajecto na modalidade.

 Dê-nos a conhecer um pouco do seu percurso desportivo, nomeadamente na modalidade de futsal, quer como treinador quer como praticante, se for o caso.

O meu nome é José Teles, nasci em França e até aos 8 anos de idade vivi e iniciei a minha carreira académica na capital francesa. Quando os meus pais regressaram a Portugal, fomos viver para uma aldeia do concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real.

A minha formação básica foi iniciada neste concelho e completada, com o ensino secundário, na cidade do Peso da Régua. A minha primeira inscrição, a nível federativo, no futebol, aconteceu aos 12 anos e desde essa idade acumulava treinos e competições desta modalidade e de atletismo. Até que aos 20 anos ingressei na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, (AAUTAD), em Vila Real, no curso que ambicionava desde os 14 anos – Educação Física e Desporto. No segundo ano do curso, em 1995, integrei a equipa de futebol universitária e em simultâneo a equipa de râguebi, na qual fui campeão nacional da 2ª divisão. Um ano depois iniciei a minha carreira no futsal, realizando o feito inédito até então de a mesma equipa conseguir subir de divisão em anos consecutivos, desde o campeonato distrital de Vila Real, passando pela 3ª Divisão Nacional, 2ª Divisão Nacional e 1ª Divisão Nacional. Na divisão máxima em Portugal tive a honra de ter como treinadores os atuais treinadores e seleccionadores nacionais da modalidade, os Professores Jorge Braz e Pedro Palas.

De seguida, tendo ficado colocado a leccionar na Escola de Tabuaço, aí encontrei um clube muito bem organizado, com todos os escalões de formação e, depois de ter sido convidado para jogar na equipa sénior, também treinei a equipa júnior, a qual foi campeã distrital da AF Viseu. No ano seguinte acumulei funções de treinador e jogador da equipa sénior e aí permaneci durante 3 anos na 3ª divisão nacional.

Novamente por questões profissionais, fui trabalhar para Barcelos, onde me estabeleci, e aí ainda joguei e treinei a Casa do Benfica em Barcelos, depois o Futsal Clube de Barcelos, Os Apulienses, Os Galos, no género masculino. Depois surgiu o convite do Juventude S. Pedro (JSP),  agora no feminino (já tinha sido responsável por equipas femininas a nível universitário, (AAUTAD e IPGuarda), aceitei e embora existissem lacunas muito grandes, principalmente pela falta de atletas para treinar, conseguimos um 3º lugar na AF Braga e chegar à final da Taça do Minho. No ano passado, novamente no JSP, estando em primeiro lugar no campeonato e depois de ter sido eliminado pelo poderoso Benfica na Taça de Portugal, a direcção achou por bem dispensar os meus serviços… águas passadas. Este ano, um projecto novo que se inicia.

Como surgiu a oportunidade de ingressar no comando técnico da equipa de futsal  sénior feminino do Castanheira? Conhecia a realidade do clube na modalidade?

O convite surgiu por parte da direcção do clube em meados de Julho, mas confesso que inicialmente estive bastante relutante a aceitar devido, unicamente, à distância que teria de percorrer para treinos e jogos. Quando me foi explicado que um dos treinos se realizaria em Ponte de Lima, a relutância diminuiu e, depois de uns dias de reflexão e diálogo, chegámos a um acordo.

O conhecimento que tinha do Castanheira prendia-se com as boas relações que este clube tinha com o clube que representei anteriormente. Tínhamos feito a apresentação do Castanheira e defrontámo-nos para a Taça de Portugal.

A nível directivo, houve uma remodelação e esta direcção, pelo que consigo assistir, envida todos os esforços para que tudo o que é necessário esteja bem resolvido.

Como encontrou o clube, quer em termos organizativos, quer ao nível de atletas disponíveis. Era aquilo que esperava ou foi surpreendido por alguns factores positivos ou negativos?

Com a nova direcção, gente nova e com vontade de trabalhar, fiquei bastante entusiasmado, assim como com o número de jogadoras inicialmente disponíveis no plantel. Este número inicial tem vindo a preocupar-me um pouco, porque quer para treinos, quer para jogos tenho algumas atletas indisponíveis. Uma por lesão prolongada e outras por questões profissionais. O facto de serem quase sempre as mesmas a treinar e serem em número mais reduzido do que aquele que eu tinha planeado, obrigou-me a reformular o planeamento de treino, para não sobrecarregar em demasia as atletas mais assíduas, intervalos entre exercícios maiores, menos tempo de jogo consecutivo… a direcção também neste campo está a tentar alterar o rumo, com as atletas em que isto é possível, claro! Em primeiro lugar está a vida profissional de cada uma, nenhuma delas é jogadora profissional de futsal…

Face á redução de clubes na AF de Viana do Castelo, esta época voltamos aos Campeonatos Interdistritais.  Qual a sua opinião sobre este novo modelo da prova, sabendo que alguns clubes se insurgiram pelo campeonato que se disputa a uma só volta, que poderá colocar em causa a verdade desportiva?

Em primeiro lugar, não faria qualquer sentido ter um campeonato com 4 equipas… pelo que considero a ligação à AF Braga muito positiva.

No que diz respeito ao modelo da competição, embora reconheça que tudo foi tratado com seriedade, através de um sorteio, no qual eu estive presente, é injusto que, no nosso caso, por azar tenhamos que visitar todos os nossos adversários com as mesmas pretensões que nós… refiro-me ao Tebosa, S. Mateus e AD Jorge Antunes, recebendo apenas outro dos candidatos, a Casa do Povo de Freixo. Também reconheço que pelos “timings” que a FPF impõe para início da Taça Nacional seria difícil fazer um campeonato a duas mãos, mas as outras Associações também têm a mesma data limite e conseguem realizar campeonatos a duas mãos. Seria uma questão a resolver muito mais cedo, iniciar o campeonato mais cedo e aproveitar os feriados para realizar algumas jornadas…

Cumpridas 3 jornadas do campeonato como analisa a prestação da equipa na prova? Quais os objectivos internos estabelecidos para a época, depois do triplete alcançado na época anterior?

Os objetivos foram inicialmente bem definidos, repetir, a nível local, o que já foi conseguido, que só por si já é uma tarefa difícil porque o Castanheira venceu tudo no ano anterior, difícil, mas possível e tudo faremos para que isso se concretize.

Depois há a Taça Nacional, aqui o nível é muito superior ao campeonato interdistrital, todas as equipas são do nosso nível e algumas até superiores, pelo que, sabendo do nosso potencial, trabalhando com maior número de atletas e com a qualidade que nós, equipa técnica, exigimos, tentaremos passar a 1ª fase da prova, que considero a mais difícil, para que na 2ª fase, moralizadas pela passagem, consigamos surpreender as equipas que disputam a subida à 1ª divisão nacional.

Quanto à prestação da equipa até à 3ª jornada, reflecte-se um pouco aquilo que referi acima, quando conseguirmos ter um maior número de atletas presentes nos treinos a equipa vai respirar melhor e evoluir mais depressa. No entanto, a prestação da equipa tem sido boa, mas poderia ser melhor. O sorteio foi muito mau connosco e levou-nos, à 1ª jornada, a disputar o jogo com o favorito à vitória desta competição, o Tebosa, uma equipa que se conhece há muito tempo e que jogou sempre num ritmo muito alto. Apesar disto, a nossa equipa disputou o jogo de igual para igual, sem mostrar fraquezas e estando por cima do jogo em muitos momentos, mas, infelizmente, não conseguimos pontuar. A 2ª jornada aconteceu em nossa casa com o GTeam de Guimarães, esse jogo foi inteiramente de sentido único, no qual conseguimos criar situações de golo inúmeras vezes, não fosse a magnífica exibição da guarda-redes adversária e assistiríamos a uma goleada muito mais expressiva, conseguimos os 3 pontos e uma exibição muito boa. A 3ª jornada foi a que mais reflectiu a falta de atletas nos treinos… as atletas que assiduamente têm treinado iniciaram o jogo com total domínio, fazendo o 1º golo com 30 segundos decorridos. Após o nosso segundo golo, a nossa equipa relaxou, fruto também do cansaço acumulado e permitimos que o Académicos reagisse infringindo-nos 4 golos. O jogo terminou empatado e nessa noite não dormi, tal a frustração que me assolou… vamos continuar a trabalhar para que as boas exibições sejam mais frequentes.

Acha que o clube tem condições para disputar a conquista de todas as provas em disputa e almejar a outros voos?

Como já referi, será necessário criar essas condições, o plantel tem qualidade para tal e tenho essa esperança.

As atletas que normalmente são menos utilizadas têm de perceber que estão num processo de evolução e que só treinando conseguem atingir patamares mais altos. Todas querem jogar com maior regularidade e ainda bem que assim é! Mas, treinando bem, a performance irá melhorar, com um plantel mais homogéneo terremos mais hipóteses de concretizar todos os objectivos, mesmo os mais difíceis.

Como analisa o estado do futsal, tanto a nível feminino como a nível masculino?

Tenho assistido a uma debandada de inúmeras jogadoras para o futebol… é mais fácil para os clubes, não têm de pagar instalações desportivas porque campos de futebol “existem um em cada esquina”. Sem incentivos, principalmente ao nível das instalações desportivas, transportes e inscrições, dificilmente um clube de futsal se consegue aguentar e vão resistindo alguns pela carolice de algumas pessoas.

Depois os apoios de patrocinadores a clubes de futsal também são muito inferiores aos que os clubes de futebol recebem. Isto é uma questão de mentalidade, o futebol “sempre” existiu em Portugal, é o “deporto rei” e o sonho de muitos miúdos e miúdas, em Portugal, em muitas localidades, o futsal ainda é visto como um escape, é para aqueles que não conseguem singrar no futebol, temos de mudar esta mentalidade e, de uma vez por todas, diferenciar as duas modalidades, o futsal não é o futebol jogado num pavilhão!

Para finalizar que mensagem pretende deixar aos adeptos e simpatizantes do clube?

Aos adeptos do Castanheira peço que acompanhem as equipas e que as apoiem, trazendo outros amigos e ou familiares aos pavilhões para verem o quanto o futsal é belo e também pode provocar paixões, tal como o futebol.

Um dos objectivos da prática do desporto é também proporcionar espectáculo aos adeptos, a eles desejo que possam assistir e criticar, positiva ou negativamente, pois só com a crítica construtiva poderemos evoluir como profissionais e como seres humanos.

Um agradecimento especial aos órgãos de comunicação social pela divulgação desta modalidade, quanto mais formos vistos mais somos amados ou odiados!

                                                                                                                                                                                                                           

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