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Um 2022 mais assertivo

11 de Janeiro de 2022 | Gorete Rodrigues
Um 2022 mais assertivo
Opinião

Caro leitor, preciso de iniciar este ano de 2022 de uma forma assertiva. Não porque não o tenha sido, ou tentado sê-lo. Tenho-me esforçado nesse sentido. No entanto, confesso que nem sempre consigo acertar na fórmula dessa milagrosa poção mágica.
A assertividade é uma estratégia de comunicação que se encontra como ponto intermédio entre dois comportamentos opostos: a agressividade e a passividade (ou a não-assertividade). Os especialistas definem-na como sendo um comportamento comunicacional de maturidade em que o sujeito não agride, não ofende nem desrespeita, mas também não se submete à vontade de outras pessoas; em contrapartida, exprime as suas convicções e defende os seus direitos (extrato retirado do site ‘CONCEITO DE’).
Resumindo, todos devemos expressar a nossa opinião, as nossas emoções e as nossas preferências, sem excessos, sem agressividade e sobretudo sem submissão. Devemos de vez em quando, avaliar as nossas reações e conseguir ter a capacidade de nos julgarmos. Fazer uma autoavaliação das nossas ações. E, se for o caso, termos a humildade de pedir desculpa ou, a coragem de assumir uma divergência, sem o fazer de forma agressiva.
Poderia apontar inúmeros exemplos para figurar o que eu pretendo aqui demonstrar. No entanto, eu escolho, movida pelo facto de eu ser mãe e cidadã, dois exemplos, associados a estes perfis, que me parecem ser oportunos, tenda em conta o enquadramento em que nos encontramos. Não só pandêmico, que de alguma forma afeta o comportamento humano, mas sobretudo político, que nos afeta o comportamento assertivo.
Sou mãe, e como tal tenho coresponsabilidade na educação dos meus filhos, incluindo nessa parte a ação do pai. Mas uma outra parte, e não menos importante, depende da personalidade de cada um deles e, das vivências e das pessoas que os rodeiam. A assertividade na educação dos nossos filhos é extremamente importante. Acredito veemente que os torna melhores seres humanos. Não existe receita infalível, mas este ingrediente pode e deve constar sem restrições, a mistura com o amor. Eduquemos os nossos filhos com muito amor, sem agressividade e sem nos tornarmos submissos aos seus infinitos desejos. Devemos evitar impor a nossa vontade, sobretudo de forma agressiva, porque esta pode e deve ser negociada. Obviamente que por vezes, tendo em conta a imaturidade natural dos mais jovens, podemos e devemos impô-la, se justa e razoável, evitando a agressividade e abusando dos argumentos com exemplos válidos e entendíveis por eles. E devemos sobretudo atuar com respeito, sem nunca ofender a personalidade de cada um deles, onde deve ser semeado a ética, a moral, o respeito por si próprio e pelos outros. E tudo isso para quê, caro leitor? Para torná-los adultos mais assertivos, e consequentemente mais humanos. Com muito amor, tudo se consegue. Eu, amo os meus filhos, sem preferência apesar das diferenças. Gostar, eu gosto de chocolate, mas prefiro o ‘Rafaelo’ ao ‘Ferrero Rocher’. Não poupe na palavra amar, caro leitor, ela faz toda a diferença. A assertividade na educação passa, a meu ver, em saber dizer não sem agressividade e dizer sim sem submissão. Mas também passa em saber utilizar as palavras certas nas alturas próprias. E esse pequeno pormenor pode fazer a diferença. Que 2022 seja, para todos nós, assertivo no que concerne a educação.
Sou cidadã, pertenço a um Estado livre, tenho direitos civis e políticos bem como obrigações inerentes a essa minha condição. Resumindo, eu não tenho só direitos, eu também tenho obrigações. E, caro leitor, essa condição não só se aplica a mim, mas sim a todos os cidadãos. Pertencemos todos a um único grupo, o grupo dos cidadãos. Onde os direitos e as obrigações são iguais. A cidadania depende do equilíbrio na distribuição entre estes dois parâmetros nesse mesmo e único grupo. Em cidadania plena, estes direitos e deveres devem andar sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação com outro cidadão. Nunca devem andar separados. Pois esta separação provoca a não-assertividade em cidadania. E é cada vez mais notório, nas escolhas políticas dos cidadãos. Estas, muitas vezes movidas pela raiva e pela emoção.
No me entender, a assertividade na cidadania tende em desaparecer quando o equilíbrio na balança entre os direitos e as obrigações é pouco transparente. E, pergunto eu, caro leitor: quem é que controla essa distribuição, ou essa balança, ou essa transparência? São os governos ou são os políticos em campanhas eleitorais?
Para mim, caro leitor, a solução está na assertividade política de quem governa, sobretudo quando governa. E não na assertividade dos discursos políticos quando estes se encontram em campanha eleitoral. Não desvalorizando, obviamente, as campanhas políticas. O importante dessas campanhas, são as propostas. Sobretudo aquelas que se apresentam assertivas e capazes de serem aplicadas sem privilegiar nem prejudicar os direitos dos cidadãos como um todo.
Por vezes eu tenho a sensação, que os políticos se esqueceram que os cidadãos integram um só grupo heterogéneo, onde também se incluam eles próprios. Quando se dirigem a nós, não o deveriam fazer como se de um conjunto de vários grupos homogéneo se tratasse. Onde alguns parecem ter mais importância do que outros. Os seus discursos deixaram de se dirigir aos cidadãos como um todo, preocupam-se em focar grupos que teimam em diferenciar, como se a política de um comércio se tratasse, equiparando-nos a consumidores ou segmentos de mercado.
Haja paciência, caro leitor, porque a assertividade está, a meu ver, em vias de extinção nesses meandros. Que 2022 seja muito mais assertivo na política.

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