Todos nós temos Amália na voz, assim cantou o Variações. Amália é muito mais do que uma voz; é muito mais do que a voz; é muito mais do que o fado; é muito mais do que música; está muito para além da vida. Amália é o que eu sinto, o que tu sentes, o que eu digo, o que eu não consigo dizer, as dúvidas, as inquietações, o tangível e o intangível.
Há vinte anos, no dia 6 de Outubro de 1999, com 79 anos de idade, a menina que vendeu laranjas no cais, a jovem por quem os rufias e os banqueiros se apaixonaram perdidamente, a artista que teve o mundo a seus pés, a vizinha de São Bento que se preocupava com os desfavorecidos de Santa Quitéria ao mesmo tempo que privava com Oulman, Vinicius e Ary, mas também com Ricardo Espírito Santo, a mulher que Salazar quis manipular sem perceber que o seu “livre pensamento” nunca se deixaria encerrar, há vinte anos, como dizia, morria Amália, nascia a lenda.
O NC, que se orgulha de viver dentro destas quatro paredes de Coura, sempre caminhou, porém, sem preconceitos nem bairrismos bacocos, por estradas sem fronteiras. Amália é a nossa alma, é a nossa religião, é Portugal, extravasando quaisquer regiões. Eis, pois, o motivo por que esta página troca o colo do rincão pela aura de Amália.
“Silêncio! Do silêncio faço um Grito. O corpo todo me dói. Deixai-me chorar um pouco.”