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57 NO REGRESSO À MISSA

9 de Junho de 2020 | Margarete Barbosa
57 NO REGRESSO À MISSA
Destaque

Eram 9.30 horas de domingo quando os sinos repenicaram e bamboaram. O toque festivo anunciava a missa das 10.30 horas. Os fiéis começavam a preparar-se e ao toque de chamada, muitos já permaneciam no adro da igreja paroquial respeitando o distanciamento social.

No exterior, dois membros da equipa de acolhimento, devidamente assinalados com uma t-shirt amarela, alertavam para a obrigatoriedade do uso de máscara e aconselhavam a entrada no espaço sagrado, ocupando o seu lugar. Em silêncio e respeitando os aconselhamentos, as pessoas dirigiam-se à porta principal (aberta para evitar tocar nos puxadores ou maçanetas) onde dois elementos da equipa lhes higienizavam as mãos com um produto desinfectante, a todos, sem excepção. No interior um elemento encaminhava individualmente cada pessoa para ocupar o seu devido lugar. As primeiras pessoas ocupavam os lugares mais distantes da porta de entrada; de cima para baixo; do altar para o guarda-vento, respeitando a distância mínima de segurança entre participantes; duas pessoas por banco e somente membros da mesma família ou a residir na mesma casa puderam sentar-se no mesmo assento.

Cinquenta e sete fiéis preenchiam os espaços disponíveis na igreja de forma ordeira e respeitosa, comportamentos intrínsecos aos nossos paroquianos. Soaram as 10.30 horas e o sino assinalou com as três badaladas o início da celebração. Padre Manuel Oliveira Lemos dirigia as primeiras palavras aos seus fiéis e a emoção pelo ressurgir da sua voz no altar era comovedora.

Durante a missa, a celebração desenrolara-se sem a presença do acólito no presbitério e os leitores, situados na assembleia, desinfectavam as mãos antes e depois de tocarem no ambão e nos livros. O número de cantores era reduzido e foi extinta a troca de folhas de cânticos. O gesto de paz, em uso nas nossas celebrações, foi suspenso.

Chegada a hora da comunhão, e extinta a procissão, o diálogo individual (“Corpo de Cristo”. – “Ámen.”) pronunciou-se de forma colectiva. O padre Lemos distribuiu sozinho a hóstia sagrada em silêncio. Usando máscara dirigia-se a cada pessoa que pretendia comungar e ministrava a comunhão na mão, pouco usual nas nossas celebrações, mas que, com esta nova realidade, promete manter-se no tempo. A máscara era retirada unicamente no momento da recepção da comunhão eucarística e colocada novamente.

Depois da bênção final, as portas junto à sacristia foram abertas constituindo assim ponto de saída para todos sem excepção, evitando cruzamento de fiéis. Não houve convívio no final da missa como habitualmente existia. Não pudemos cumprimentar o amigo ou o parente que vive afastado. Não pudemos dar aquele recado ou ficar na conversa só para descomprimir da semana de trabalho.

A igreja ficou completamente vazia. Arejada e desinfectados os pontos de contacto, a igreja foi fechada à espera da próxima celebração.

Estávamos felizes. Afinal, desde o dia 13 de Março que os sinos da nossa aldeia não tocavam para a missa. Nunca mais se ouvira o toque de expressão para convocar ou advertir, de algum modo, os sentimentos do povo de Deus, à excepção do dia de Páscoa.

Minucioso e informado, o pároco reunira atempadamente com um grupo de pessoas escolhidas por si, para garantir o bom funcionamento das celebrações, garantindo assim a protecção contra a infecção e auxiliando os fiéis no cumprimento das normas de protecção.

Na companhia de dois elementos da equipa de acolhimento, o padre Lemos percorreu a freguesia no domingo que antecedeu a primeira celebração eucarística pós confinamento social, aconselhando os fiéis de mais idade e doentes a não frequentarem a missa dominical; por razões imperiosas, poderiam ir à missa durante a semana, em que há menos fiéis.

No entanto, no domingo 31 de Maio a igreja paroquial de Agualonga, respeitando todas as orientações da Conferência Episcopal Portuguesa em coordenação com as legitimas autoridades governativas e de saúde, assim como o próprio pároco para a celebração do culto público católico no contexto da pandemia COVID-19, abriu-se para a solenidade do Pentecostes.

Já dizia Fernando Pessoa: “Ó sino da minha aldeia/ dolente na tarde calma/ cada tua badalada/ soa dentro da minha alma / E é tão lento o teu soar/ tão como triste da vida/ que já a primeira pancada/ tem o som de repetida(…) /A cada pancada tua/ vibrante no céu aberto/ sinto mais longe o passado/ sinto a saudade mais perto”.

 

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