Tirando o NOTÍCIAS DE COURA, na sua segunda vida, com Manuel Tinoco ao leme, e quão valoroso e intrépido diretor tem sido, mantendo uma renovada equipa em ação, um dos jornais de maior sucesso da imprensa courense foi, sem dúvida alguma, A VOZ DE COURA.
Fundado a 6 de agosto de 1903, terminou em dezembro de 1906, reaparecendo em abril de 1907 e terminando, definitivamente, a 5 de fevereiro de 1921, embora Lopes de Oliveira, em Terras de Coura, refira que tal aconteceu em 1923.
Basta ter sido o jornal de Narciso Alves da Cunha, de Júlio de Lemos e de Cunha Brandão para poder ser dito que foi um semanário que se afirmou positivamente e que deixou um enorme legado histórico, mesmo que muitos dos seus números não existam no Arquivo Municipal, com grande perda para o estudo do período relativo à implantação da República, em 1910.
Na sua génese está a defesa da monarquia – “monarquistas, defenderemos as instituições vigentes do país” – e também a defesa de Miguel Dantas, tão agastado pelo JORNAL DE COURA (1895-1896), com ideário cristão e antipartido Regenerador, e o LIBERTADOR DE COURA (1897-1901), de ideologia republicana.
Constando do “Nosso Programa”, da Voz de Coura, que “não nos associamos a partido algum político, para podermos manejar a nossa pena com imparcialidade, retidão e justiça”, pois, “para nós, todos os partidos nos servem, logo que cumpram com o seu dever”, o facto é que o “semanário imparcial” conheceu três fases distintas.
Primeira, a defesa do regime monárquico, do qual Miguel Dantas foi o mais reputado representante, sendo continuado, nos últimos anos, por Narciso Alves da Cunha; segunda, a defesa das ideias republicanas, primeiro com Júlio de Lemos e depois através de Narciso Alves da Cunha; por último, a viragem conservadora, nos anos finais, muito marcada pela reação ao regime republicano e naquilo que ele tinha de mais anticlerical.
Porém, e recorrendo mais uma vez ao “Nosso Programa”, “é nobre e grandiosa a nossa missão, mas difícil e espinhosa é a tarefa que vamos seguir pela estrada fora que encetamos, muitas vezes, tapetadas de espinhos e martírios.” E mais: “Aí fica em ligeiros traços o nosso humilde programa, que prometemos cumprir fielmente não nos desviando um passo deste caminho, porque a nossa pena pode quebrar, mas nunca torce.”
De facto, um jornal concelhio tem no seu caminho muitos obstáculos, uns pela insuficiência de recursos financeiros, outros pela animosidade de certas pessoas, que nem sempre compreendem que a imprensa é uma das mais nobres práticas de liberdade, por mais que se discorde de uma ou outra opinião contrária.