Não é por acaso, caro leitor, que eu junto no título desta crónica duas palavras que raramente ou talvez nunca se encontram. Incoerência arbitrária. Para temas actuais ou não, e atitudes que se queriam lógicas quando associadas a eles. Para quem dirige e controla os nossos actos como cidadãos, que se pretendiam coerentes, justos e razoáveis, sobretudo no ‘quero, posso e mando’.
A incoerência, ou ausência de lógica, será bem empregue em determinadas situações, que apesar de simples quando vistas de lado, são estranhas e de difícil entendimento quando olhadas de frente. Se o nosso entendimento for apenas baseado na nossa vontade ou desejo, este passa a ser arbitrário.
Em que estarei eu a pensar?, perguntará o caro leitor.
De um lado, o planeta, o ambiente e a sua biodiversidade, onde nos incluímos também. A sua defesa e preservação para contrariar problemas como o desequilíbrio dos ecossistemas, o esgotamento de recursos e as alterações climáticas. Realidades demasiado próximas de nós e que já lesaram muitos como nós.
Por outro lado, caro leitor, as alternativas ou opções disponíveis para corrigir ou minimizar os efeitos negativos das nossas acções sobre o planeta que tão bem nos acolhe. Aquele que plastificamos sem nenhum tipo de benefício para ele. Aquele que já não acumula dissabores sem retaliar. Aquele que deveríamos preservar com o seu ambiente e a sua diversidade.
As maiores retaliações estão para chegar e não estamos, de todo, preparados para elas. E aqueles que nos ‘orientam’, ou que ‘nos’ governam, dão a entender que têm tudo muito bem controlado. Principalmente quando determinada decisão lhes traz dinheiro para os cofres do Estado. Nas conferências, nas apresentações e nos discursos, parece estar tudo previsto e decidido. Parecem querer-nos transmitir que há males que vêm por bem ou bens que vêm por mal. Ou qualquer coisa do género. É verdade que os nossos ministros e seus subalternos nos apresentam muitas acções e soluções. Correctivas e ditas acessíveis a todas as carteiras. E outras aguardando relatórios de estudos com evidências de que o mal que fazem justificará o bem que há-de vir.
São exemplos disso, além do tão afamado Simplex, os financiamentos ou apoios, os empréstimos bonificados, que só beneficiam os primeiros a lá chegar, os mais atentos, os amigos informados, ou talvez os próprios, mas sempre uma minoria. Na palavra de um político, é sempre tudo muito simplificado. Existe um apoio disponível para trocar janelas, ou colocar painéis solares, para melhorar as condições dos consumos energéticos em nossos lares, e o seu acesso é, com a certeza política, simplificado. Ou um outro apoio qualquer que foi utilizado em discurso e que de repente já se foi, de tão simplificado que era, para meia dúzia de lares. É muita incoerência. Dá a sensação que só atiram os grãos para os pardais e esquecem-se ou não, de semear o campo todo. Que fruto darão estas sementes atiradas aos pardais, caro leitor? É melhor nem responder.
Ou ainda o dilema da exploração do lítio. Eles querem-no, vai lá saber-se porquê. Ou não. O que eles não querem é ‘ficar mal na fotografia’. Esta é a ideia com que eu fico quando ouço ou leio certos comentários políticos sobre o assunto. E infelizmente, caro leitor, parecem estar decididos a reduzir uma paisagem intocável a uma imagem aprisionada num quadro de uma parede qualquer. E isso bem próximo de nós, talvez dependente de um relatório encomendado.
Voltando aos apoios, aqueles que só chegam até alguns, mas são dirigidos a todos. É uma satisfação geral quando estes são apresentados com pompa e circunstância. Os parabéns soam por toda a parte. Mas na hora de beneficiar deles, a corrida ao seu alcance é tanta e as burocracias são tão confusos que quando lá se chega já se foi a dotação orçamental. Aprovado sem dotação orçamental. Uma frase tão em voga nesses meandros. Para mim não é de todo coerente oferecer a todos aquilo que só será entregue a uma minoria, privilegiada ou não. Todos somos contribuintes e todos temos os mesmos direitos. Se nas obrigações somos todos, excepto alguns, tratados por igual. Porque é que nos direitos a apoio financeiros colocam rateios para só lá chegarem alguns.
Medidas que beneficiam todos são necessárias. Utilizem, caros políticos, o dinheiro que nos retiram, sempre que abastecemos o nosso automóvel, para renovar o parque de veículos poluidores por outros mais amigos do ambiente. Fica aqui registada uma ideia. Mas quererão eles decapitar a sua galinha dos ovos de ouro.
Afinal, caro leitor, o ambiente tem ou não que ser preservado e poupado? Talvez seja melhor focarmo-nos na reciclagem. Este lixo acaba por gerar alguma riqueza, para alguém. E nós, o que ganharemos em troca dessa acção? Diminuirá isto a nossa culpa, ou a nossa pegada ecológica? Talvez, caro leitor, no entanto continuaremos a pagar para que nos recolham o lixo. Esta é que é essa, como diria o Bessa.
Decidir com coerência por acções verdes que estejam ao nosso alcance dependerá sobretudo da nossa vontade, logo, será inevitavelmente arbitrária.
Não é só o nosso planeta que precisa de ser desintoxicado e limpo. Para além de acordar, todos nós precisamos dessa desintoxicação e limpeza. Parece-me, caro leitor, que tudo, incluindo esta crónica, está mergulhado numa total incoerência arbitrária.