Não tenho tido muito tempo para ouvir atentamente os noticiários diários ultimamente. A informação que eu vou arrecadando sobre o que está a acontecer nas redondezas e no mundo é-me entregue pelas ondas do radio do meu carro. E isto nas curtas viagens de casa até ao emprego e vice-versa.
Quer saber o porquê desta minha falta de tempo, caro leitor? Esta deve-se a muita incompetência de quem governa o sector, ou subsector, já nem sei, em que eu trabalho. A agricultura nacional está de pernas para o ar, e amarrada por nós sem nexo e tão apertados que dificulta e complica a vida de quem trabalha nesta área. E isto porque enquanto distribui migalhas, e na grande maioria veiculadas por nós, as entidades privadas, à custa de muito trabalho extraordinário e sem contrapartida, a vossa ministra da Agricultura insiste, sem se dar por vencida, na inconsistência das regras mal desenhadas do PEPAC (Plano Estratégico para a Política Agrícola Comum). Talvez este venha a ser renomeado para PSEPAC, Plano Sem Estratégia da PAC.
São essas burocracias mal desenhadas, por quem não conhece nem o território nem a sua realidade, os ditos estudiosos sem prática, que, num piscar de olhos, transformam um paraíso num inferno. A consequência de toda essa incompetência trará algo de menos positivo para o mundo rural. Algo que tem um nome já bem conhecido, o abandono das terras agrícolas. E se pensam que na floresta é que está a solução, infelizmente já todos conhecemos, da pior forma possível, os muros memoriais não inaugurados que a má gestão da floresta pode levantar.
Voltando ao trabalho, que estes ilustres sem terra nos ofereceram, estamos actualmente com inúmeras dificuldades em desatar os nós complexos, alguns sem solução à vista, que a aplicação do tal PSEPAC nos trouxe. Esperemos, caro leitor, que este trabalho extra, que as associações do sector estão a ter, traga boas safras aos agricultores e arquitectos da paisagem do nosso tão confortável mundo rural. Que o nosso trabalho seja, pelo menos, assim gratificado.
Infelizmente, caro leitor, este excesso de produtividade não resulta no respectivo aumento de facturação pelo serviço prestado. Nada mais justo seria que este fosse pago pelos responsáveis que deram origem a estes nós difíceis de desapertar. Ou talvez não, caro leitor, porque quando o Estado nos dá algo por uma das mãos, rapidamente o faz desaparecer com a outra. Caso estes lograssem nos presentar com um bolo pelo nosso trabalho extra, uma suposição que bem poderia ser real. Se isto acontecesse, caro leitor, talvez, ou quase de certeza, que das fatias que restassem depois de se servirem as grandes superfícies, os donos da energia e os bancos, mas não os de sentar, o nosso Estado ficaria com a melhor delas todas. Ficaria com aquela que talvez nos saciasse a fome de umas férias de sonho merecidas sem ter que contar tostões.
O melhor, caro leitor, é esquecer este assunto, comendo fatias de queijo limiano, por exemplo, diz-se por aí que este tratamento resulta. Caso contrário, teríamos aqui mais um motivo para contestar. A vontade parece existir, no entanto, prevalece aquele frio no estômago, a quem muitos apelidam de esperança. Esperança de que tudo se vai resolver. A esperança de que eles percebam a tempo a quantidade de nós que estão a fazer, e que actuem prontamente de forma a limpar este emaranhado todo. Mas estes marinheiros sem água, que nada percebem de nós, não estão nem um pouco para aí virados.
Imaginem, caros marinheiros sem água, se todos os ‘sem férias’ deste país saíssem à rua para reivindicar o basta ou chega, para estes nós tão complicados de desfazer, a fim de resgatar a dignidade merecida. Se isso acontecesse, talvez não fossem somente meia dúzia, talvez fossem o suficiente para não deixar o barco afundar. Mas, e se este afundar? Relembro aos estudiosos sem prática, que o salve-se quem puder, aplicar-se-á a todos, sem discriminação, porque, queiramos ou não, estamos todos no mesmo barco. E se este afundar, levará tudo sem distinguir quem tem ou não direito, digo dinheiro, para férias de sonho.
Apesar deste desabafo, espero que todos tenham as férias ansiadas. Se não for em Cuba, que seja em Portugal. Se não for na Índia, “don´t worry”, ela virá até si. E se não for no Algarve que seja no Tabuão. Porque este último ainda fica no paraíso.
Com ou sem a tal fatia de bolo, desejo a todos os caros leitores umas boas férias.