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Meu querido mês de Agosto

8 de Agosto de 2023 | Helena Ramos Fernandes
Meu querido mês de Agosto
Opinião

Entre os aromas da terra por vezes molhada, quando não se sobrepõe o cheiro aos mentrastes cortados pelas máquinas de fio, algo que acontece frequentemente no nosso verde Alto Minho, temos o cheiro da maresia acentuado pelas algas salgadas que se acumulam nas praias nortenhas. Nós temos neste nosso cantinho, caro leitor, o direito e o privilégio ao cheiro rural, que é com certeza mais agradável e bem mais saudável do que o cheiro urbano. Mesmo que este cheire a rosa e mar, como nos disse sua santidade o Papa Francisco quando chegou a Lisboa. Ultimamente os aromas citadinos têm vindo a combinar-se com os das especiarias vindas, ou não, da India. Terras que outrora entraram na rota dos nossos descobridores em busca dessas mesmo especiarias. Actualmente, são as suas gentes que nos descobriram, e através dos seus costumes se fazem notar pelos cheiros a açafrão e noz-moscada em certas ruas citadinas. São todos muito bem-vindos, Sr. Costa. E que venham com vontade de trabalhar e de nos ajudar a encher os cofres do Estado que governa. Para que quando este transbordar, que é o que parece ser o propósito da maioria das suas propostas políticas, todos nós, incluindo toda essa ajuda imigrante, possamos viver melhor com o que nos venha a ser permitido arrecadar nos nossos cofres familiares quase sempre vazios. Haja verdadeira vontade política para isso!

Por ti levo o ano todo a sonhar…

O nosso querido mês de Agosto também tem o seu cheirinho tipicamente agridoce, nesta altura do ano, para nos saciar o apetite reduzido pela agrura da vida que levamos, ou não, durante o resto do ano. São inúmeros os cheiros que este mês nos presenteia com maior frequência. São os das farturas oleadas e recheadas e híper calóricas, do papudo açucarado e da rosquilha com sabor a anis, do algodão doce e das pipocas coloridas, ai, meu Deus, que lá se vão os ‘diabretes’. São os dos churrascos em família ou entre amigos, dos piqueniques e dos lanches ajantarados que nos são possíveis nesta altura do ano. Inúmeros cheiros consoante a ocasião. Os passeios pelos campos, as idas à praia, as festas e romarias, a esplanada ao final da tarde, e até mesma a simples janela entreaberta nos presenteia com cheirinhos. Cheiros agridoces pelo quais sonhamos durante grande parte do ano.

Trago sorrisos no rosto…

Mas o mês de Agosto também nos traz alguma fartura, com sorrisos à mistura, para muitos courenses directamente, e para os restantes, indirectamente. Sorrisos trazidos pela grande mistura de aromas que o Festival de Paredes de Coura nos presenteia, e que se propaga a partir da praia do Taboão. Nesses dias a nossa terra, além de cheirar a boa música, também cheira a muita gente boa, gente de toda a parte e que passa por cá para nos dar mais do que o seu perfume, também traz dividendos. Dinheiros, públicos ou privados, muito bem investidos, caros leitores, porque estes trazem um retorno muito positivo ao nosso pequeno concelho de montanha. Tal como o algodão, as evidências e suas contas não enganam. O mês de Agosto não se engana quando afirma ‘trago sorrisos no rosto’.

Porque sei que vou voltar…

Não posso nem devo esquecer, porque já fiz parte deste voltar, os cheirinhos que nos chegam além-fronteiras, através dos nossos emigrantes, que saíram do país por motivos variados, e que voltam maioritariamente no mês de Agosto. E neste voltar, caro leitor, agregam-se todos os cheiros num cocktail de diferentes pronúncias. Até a própria pronúncia do Norte fica cheirosa neste mês, através do aroma da volta que tanto se espera. Voltem sempre, caros emigrantes, trazendo nas vossas malas todos os cheiros da saudade acumulada durante o ano. Porque nós cá estaremos para recebê-los em nossa terra, ainda, ou outrora, vossa.

(O título e os subtítulos desta crónica são versos retiradas da letra “Meu querido mês de Agosto”, de Dino Meira.)

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