O tema que hoje trago é sem dúvida um tema com alguma seriedade que muitas vezes não é abordado com a frequência com que deveria. Um assunto que surgiu de uma conversa entre amigos e que resultou num momento de reflexão e identificação. A conclusão a que chegámos no final da conversa foi; “todos nós já passámos por uma crise de identidade, só que não a nomeamos como tal”.
Mas o que é em concreto uma crise de identidade? Durante a conversa que tive, senti que sabia o que significava este conceito, mas mesmo assim, decidi mais tarde procurar mais acerca dele. E descobri que se trata de uma bolacha bem completa.
Uma crise de identidade é uma fase, pela qual muita gente passa, ou talvez toda a gente passa em algum momento da sua vida. E nessa fase, existe uma procura pela nossa identidade bem como a reavaliação de quem realmente somos. O conceito em si foi criado pelo psicanalista e psicólogo Erik Erikson em prol de caracterizar a fase de experimentação e desenvolvimento da identidade. O mesmo refere que nesses momentos as pessoas procuram experimentar vários papéis e identidades com o objectivo de ultrapassar essa fase e ser portador de uma identidade firme. No entanto, nem sempre o expectável é o que realmente acontece e, este processo, pode resultar numa confusão de identidades.
Actualmente o termo possui dois significados distintos. Enquanto para Erikson é somente na adolescência que esta crise ocorre e é nesse momento que devemos escolher entre a identidade do ego e a confusão. Na concepção popular esta já pode ocorrer após uma grande mudança na nossa vida ou trauma. Algumas das causas podem ser, entre outras, a conclusão do secundário ou da faculdade; casar; entrar no meio profissional; perder alguém importante; mudanças nas funções de trabalho, entre outros.
O senso de identidade ajuda as pessoas a interagirem com o mundo ao seu redor, ajudando-as a reduzir confusões e ansiedades, na orientação das escolhas acabando por nutrir a sua auto-estima. No entanto, durante este processo, devemos ser flexíveis e abrir a porta a possíveis mudanças na nossa identidade.
Estas crises podem ser identificadas quando nos sentimos inseguros acerca de quem somos, ou acerca do nosso papel no mundo/sociedade. Acabando por nos tornar mais confusos e sem saber como nos definir. Somos dominados por sentimentos de angústia e sentimo-nos deslocados. Acabamos por ir em busca de algo que não sabemos definir, ficamos perdidos e sem saber como responder a perguntas simples como “Qual é o teu filme favorito?”, por não sabermos bem aquilo que gostamos. Assumimos que os sentimentos passados são desactualizados por estarmos numa “fase diferente”. A realidade que conhecíamos já não é a mesma, então as questões acerca daquilo que somos surgem com mais frequência.
Estes momentos têm intensidades distintas, de pessoa para pessoa e até de dia para dia. Por isso, espero que esta crónica sirva de conforto para uns e de alerta para outros. Porque não nos sabermos definir é algo pelo qual todos nós passamos, no entanto, caso sintam que essa busca pela identidade não se está a concretizar, procurar ajuda será sempre uma excelente opção. A saúde mental é crucial para o nosso bem-estar.
Finalizo tal como na conversa que tive com os meus amigos, partilhando a minha conclusão. Conclusão essa que assenta na forte necessidade de partilha daquilo que sentimos e daquilo que não sabemos nem conseguimos perceber. Uma partilha boa, uma partilha daquilo que vivenciamos e acima de tudo a partilha de quem somos.