Será o tão conhecido provérbio uma verdade absoluta? Será que ainda existe a mais ínfima força na aspiração pelo juramento? Mas porquê associar directamente a mentira a uma palavra com um sentido oposto?
Desta vez decidi explorar esta premissa, o antagonismo de duas palavras que têm andado demasiadamente juntas. Esclarecendo que toda esta reflexão não passa de uma curiosidade que me surgiu numa das viagens de barco que diariamente faço para ir para casa. Oito minutos de viagem que me levam a questionar sobre todo o tipo de temas. Uma viagem que normalmente faço na minha companhia, com um ouvido na conversa do lado, que na maioria das vezes se impõe ao meu pensamento.
No que diz respeito ao provérbio, acredito que todos já o ouvimos e muito provavelmente já o proferimos. No entanto, tenho quase a certeza que já jurámos, acreditando impiedosamente nesses mesmos juramentos, considerando como verdade absoluta a nossa verdade relativa. Todo esse contexto originou a minha dúvida acerca da credibilidade do juramento.
Como tal e para melhorar a minha conceptualização, decidi trazer o que está por trás deste provérbio, enraizado na sabedoria popular. A sua origem remonta a tempos antigos, onde a palavra era considerada sagrada e vinculativa. Um exemplo bem evidente encontra-se nos tribunais onde um juramento tem o peso da verdade absoluta, e marca uma linha evidente que distingue a honestidade da mentira. No entanto, ao longo dos séculos, essa noção de integridade desvaneceu-se, e o juramento transformou-se numa formalidade, a maioria das vezes, vazia.
Na minha opinião, o “jurar” tem vindo a perder importância, por estar cada vez mais presente em “juramentos casuais”. Com “juramentos casuais” refiro-me a situações com pouca relevância com a finalidade de tornar a nossa credibilidade mais fácil de garantir. Em contrapartida é nessas ocasiões que lhe atribuímos menos relevância e acabamos por incumprir, colocando em causa o valor do juramento. Ao ser utilizado numa situação banal, caso não seja cumprido é facilmente justificável, o que acaba por resultar num ciclo vicioso. Retirando assim a crença nos juramentos mais sérios. Aqueles que quando não são cumpridos podem gerar consequências drásticas. Com o uso banal do juramento, perde-se o seu irrefutável valor e associa-se não tanto às promessas, mas às suas quebras. Tudo porque o uso se tornou exagerado e deixou de ser levado à risca. Hoje em dia jurar acaba até por ser evitado nas situações onde ele deveria ser mais poderoso, e tornou-se num aliado do discurso falacioso que procura a aceitação social.
Tal como sabemos, a mentira é uma característica pejorativa, e apesar de ninguém receber de bem um “estás a mentir”, a ocasionalidade que atribuímos ao juramento, nos dias de hoje, provoca a sua menção. Jurar já não é o que era, porque nós o quisemos. Tornámos a palavra “usável” em qualquer circunstância.
Contudo, eu não quero deixar de acreditar na possibilidade da existência de um mundo onde os juramentos são cumpridos, onde a palavra dada é respeitada e honrada. Quem sabe um dia esse mundo se torne realidade. Até lá, continuaremos a jurar, na esperança de que as nossas promessas se tornem mais do que simples palavras ao vento. Porque a luta pelo cumprimento da promessa cada vez é menos procurada. Mas não se esqueçam que não há sentimento mais gratificante que o sucesso de algo que foi por nós balizado. A credibilidade é importante socialmente, mas é ainda mais, intelectualmente. Porque se não acreditarmos nas nossas capacidades dificilmente conseguiremos ser bem-sucedidos. Acreditem e cumpram com aquilo com que se comprometem, valorizem a palavra e tornem-na mais forte. E garanto-vos, ou melhor, juro-vos que vão sentir a diferença.