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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA. ROSA DO FERREIRO, ROSA DO CRASTO, ROSA DE FRANÇA E DA AMÉRICA

8 de Outubro de 2024 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA. ROSA DO FERREIRO, ROSA DO CRASTO, ROSA DE FRANÇA E DA AMÉRICA
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Depois de um longo hiato, o leitor mais atento ainda se recordará desta rubrica de courenses com história, que procura ir ao encontro de pessoas que tenham alguma imagem de marca, isto porque, todos nós temos a nossa história, logo não existem courenses sem história, cada um à sua maneira.

Retomando este cantinho, nesta edição decidimos rumar até Rubiães. O Lugar do Crasto foi o destino. Por ali encontramos uma senhora que, muito encostada às 90 Primaveras, é detentora de umas faculdades a fazer mossa a gente mais nova. Rosa Ferreira  Guerreiro, 89 anos, abriu-nos a porta da casa para, numa tarde de conversa, nos dar a conhecer histórias sem fim, numa vida muito preenchida. Não se furtou a narrar as histórias de amor e as paixões que viveu, bem como a luta que encetou para enfrentar a vida, entre Portugal, França e Estados Unidos da América. Rosa do Crasto, uma matriarca de Rubiães.

Com 4 irmãos, a Rosa do Ferreiro, como é conhecida, viu o pai partir para o Brasil, tinha ela apenas 5 anos, sendo a filha mais velha. A propósito, gracejou que apenas ela herdou os sobrenomes do pai, Ferreira Guerreiro, e nenhum da mãe. Fiquei com o nome diferente dos meus irmãos porque, se calhar, o meu pai pensou que iria ser filha única, acrescenta. A verdade é que, antes de rumar ao Brasil, onde acabou por falecer, o pai ainda progenitou mais 3 filhos.

Contou-nos ainda que o pai era um conceituado ferreiro e, curiosamente, veio a casar com a filha de um ferreiro, o famoso Ferreiro do Crasto, um casamento que a família do pai, nunca encarou muito bem, porque a mãe era oriunda de uma família muito pobre.

A ida para o Brasil, obrigou a Rosa a ir para casa de uma tia, a Ana do Ferreiro. Por lá ficou até aos 30 anos, idade em que decide rumar a  França.

Por cá, durante a juventude, diz ter tido diversos namorados, por vezes mais que um em simultâneo, porém, a maior paixão durou 10 anos, com um conterrâneo de Rubiães, hoje já falecido, filho de uma loja muito conhecida ao tempo na freguesia. “Foi o amor da minha vida”, afiança a Rosa. O amor era tanto que pensaram em casar, mas não havia dinheiro para tanto. Nesse impasse, o amado decidiu rumar a Lisboa em busca de uma vida melhor. De regresso à terra, desafiou a namorada a acompanhá-lo para Lisboa, onde ele pretendia casar. Ela não aceitou o convite até porque já estava a planear rumar até terras francesas, gorando-se assim uma paixão de 10 anos.

De partida para França, então com 30 anos, com carta de chamada do primo Celso Guerreiro, apanhou o comboio no Porto. A viagem durou 2 dias e duas noites e foi muito atribulada. Segundo recorda, levava um manuscrito com o nome da estação onde deveria sair e onde a esperava o Celso. Precipitadamente, e sem saber falar o Francês, em determinada estação, precipitou-se e saiu da locomotiva. Valeu, na ocasião, um passageiro que, ao ler o nome no manuscrito, a alertou que não era ali o destino para ela. Ainda foi a tempo de reentrar no comboio, com este já em andamento e em marcha lenta, conseguindo apanhar a última carruagem, onde era a única passageira. Levava na mala umas garrafas de vinho do Porto e, com o cansaço, sentou-se em cima desta, partindo as garrafas, que lhe mancharam a roupa.

Chegada ao destino lá estava o Celso à espera. Estava iniciado uma nova aventura por terras de França. Por ali permaneceu durante 10 anos e foi em terras gaulesas que conheceu o marido e casou, sensivelmente ano e meio após a chegada àquele país. O Francisco era de Barcelos e foi o sortudo, no meio de vários pretendentes. Do casamento nasceu a única filha, hoje uma conceituada médica nos Estados Unidos da América, país que acolheu os pais vindos de França.

Segundo diz, foi um cunhado, então na América, que os incentivou a rumar até àquele país. Por lá ficou durante 45 anos, tendo regressado a Rubiães, há cerca de 5 anos. Entretanto divorciou-se, ficando a morar sozinha, com o acompanhamento contínuo da filha que, com frequência, viaja até Portugal.

Uma verdadeira enciclopédia viva, hoje ainda faz bordados e croché como ninguém, recordando que, quando era nova, aplicava injeções nas pessoas da freguesia. Segundo afiançou, foi no regresso da aplicação de uma injeção ao avô materno do Manuel Tinoco, director deste jornal, que encetou o namoro com a já atrás referida maior paixão da sua vida.

Hoje mostra-se orgulhosa do passado, traduzido numa filha e 4 netos.

Foi gratificante conversar com a senhora Rosa do Crasto, numa visita que durou algumas horas, mas que passaram rapidamente e onde foram contadas muitas histórias de vida a reivindicar muito mais espaço no jornal do que o que ora se me apresenta.

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