Voltando mais uma vez às origens de Coura, confrontamo-nos com duas situações: ausência de informação histórica ao longo de muitos séculos, se bem que os dados arqueológicos ligados aos Romanos sejam uma mais-valia para concluir sobre a ocupação do território, de que os Suevos já tinham deixados alguns testemunhos; fontes históricas medievais que atestam a formação do concelho, começando com o paroquial suévico (finais do século VI) que consagra Corelo como espaço de maior centralidade, bem protegido pelas montanhas e pródigo em abundantes e frias águas.
O problema mais surpreendente é o desaparecimento desta primeira sede do concelho, num abrir e fechar de olhos, pois a sua afirmação não durou mais do que dois séculos, mesmo que outros espaços não tenham despontado.
Ora a questão que explica tal brevidade de Corelo é a conquista da quase totalidade da Península Ibérica pelos Muçulmanos, no dealbar do século VIII, seguida do ermamento ou despovoamento dos espaços mais vitais, como se a população tivesse recuado para as montanhas devido a um tsunami.
E a comparação até não é exagerada se for tida em conta a quebra dos laços de continuidade de muitas comunidades, que foram dando sentido de território a espaços que se formaram com a exploração das terras férteis.
Este momento de grande violência, já muito depois de Maria Grove ter deixado descendência em Paredes (de Coura), marca a formação do concelho, tal como hoje é conhecido, desde o século X até ao século XVI, mais precisamente a 13 de abril de 1515, data em que à “Terra de Coyra” foi outorgada a primeira e única carta de foral.
Todavia, este intervalo de tempo histórico está recheado de situações muito diversas que configuram um concelho rural que levou muito tempo a conquistar a sua autonomia. Por conseguinte, a génese e a identidade de terras como a de Coura estão umbilicalmente ligadas à formação de Portugal, no século XII.
Olhar para Coura pelo prisma de Portugal é o método mais adequado para encontrar os fundamentos do regime senhorial e verificar de que modo esse poder foi moldando o território, numa forte interação com o poder régio.
As primeiras fontes documentais sobre Coura situam-se claramente a partir do século XII, com a pertença ao “Julgado de Frayão”. Aqui há as inquirições de 1258, que são a primeira narrativa factual sobre terras que administrativamente se organizavam sob um poder militar, do qual mais tarde foi seu representante, o tal “Bisconde” de Vila Nova de Cerveira, de muitas nomes, de muitas gerações e de muitas prepotências para as gentes de Coura.
Talvez, por isso, a primeira face do concelho de Coura esteja voltada para o rio Minho, partilhando terras com os atuais concelhos de Valença e Monção
[continua]