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Rosa Courense

10 de Fevereiro de 2016 | Gorete Rodrigues
Rosa Courense
Geral

Margarete é uma criativa, por isso, gosta de pôr um pouco de si em tudo o que faz, mantendo a identidade forte que tanto a caracteriza…

Licenciada em Desenho, a jovem aliou este conhecimento á ilustração e á escultura, misturou o design tradicional com uma pitada de contemporaneidade e o resultado foi a peça Rosa Courense.

Margareth, assim o assina, é a sua criadora. A beleza e garra da mulher courense serviu de inspiração e mote para a responsável pela Oficina de Cerâmica Artesanal de Paredes de Coura, propriedade da EPRAMI, que cedo se entregou ao fascínio de trabalhar o barro. No atelier, a jovem de Agualonga procura diversos materiais e técnicas para dar dimensão às mais variadas peças que executa. Todos eles com uma grande influência das cores e texturas da sua terra. O seu universo imaginário não encontra limites e atreve-se sempre a romper quaisquer barreiras que se lhe deparem no caminho.

Seja qual for o projeto que abrace podemos ter a certeza de que uma conotação romântica e pormenorizada estará sempre presente no resultado final. São estes pormenores que não deixam o expetador indiferente ao seu trabalho.

 

O amor pela sua terra natal, Paredes de Coura, levou-a a desenvolver vários personagens que considerou courenses. “Como ilustradora gosto de dar vida aos enredos mais mirabolantes e inverosímeis. O segredo está no desenho. E na magia também… criar personagens, atribuir-lhes uma história, dar-lhes vida própria. Criei a Moura Encantada (inspirada na tão conhecida lenda), o Zé do Pipo (com uma caneca de vinho e uma truta) e a Rosa Courense (com um coração nas mãos). Logo após ter colocado á venda estes três personagens, percebi a “disputa” que se desenrolou por duas mulheres na compra desta última. Pediram-me para fazer mais… Á medida que as fui executando, apurando arestas, aperfeiçoando feições. A verdade é que as Rosas Courenses começaram a ter procura e esgotavam-se rapidamente”, explica a autora. Já criou mais de 500 peças, inclusive para associações e empresas, entre peças, alfinetes e ímans da marca Rosa Courense. Anexada á peça, vai um texto escrito pela artista que descreve o conceito desta tão especial mulher de coura.

O processo e produção é essencialmente manual onde a artista tem toda a liberdade para definir o ritmo da produção, a matéria-prima e a tecnologia que irá empregar, a forma que pretende dar ao objeto, produto de sua criação, de seu saber, de sua cultura. Executadas desde o amassar do barro á pintura, a peça prima pela elegância, cores garridas, elementos rurais e pintura original.

 

Rosa Courense poderia chamar-se qualquer nome, mas foi Rosa que lhe coube. A sua criação foi, segundo Margarete, inspirada na força que a mulher exerce no mundo, em especial a minhota pela capacidade de trabalho e beleza natural. De fato, a história da Rosa Courense é intemporal “é a imagem de muitas mulheres da nossa terra.

Mulher de garra, destemida, de amores e carinhos. É trabalhadora, dinâmica, viva, de lutas e conquistas espelhadas num rosto sereno.

Rosa Courense é filha da lavoura e ama a sua terra, essa terra que amanha. Cresceu entre campos de linho e milho munida de sacholas, ganchos, foucinhas, malhos e outros instrumentos, toca a vida para a frente a cantar.

Revira as terras, colhe milho, centeio, batatas, feijão, cria gado, mata o porco, faz belouras, pão e rojões.

Conhece o trabalho de campo como as linhas de suas mãos que desabrocharam nessas lides, cresceram e definiram-se com a cumplicidade da enxada e foucinha.

É mulher de sete ofícios, trata da casa, do amanhar das terras, da educação dos filhos e do seu sustento.

Rosa Courense mãe, torna-se pai, lidera tarefas de casa e do campo enquanto endireita para a vida o rancho de filhos que a cerca.

Assim se tece a sua história entre terras trabalhadas, um carro de vacas e meia dúzia de cabeças de gado.

Em tudo isto, a Rosa Courense é amor, infinito amor”… acrescenta a autora.

 

Esses objetos são peças únicas, que condensam saber, memória, passado, história e precisam ser preservados e valorizados.

Cada peça é única e para salientar a sua individualidade e garantir a sua valorização, cada peça é devidamente numerada e assinada pela autora.

Em 2015 a autora criou a Rosa Courense versão Festa, também ela em faiança com pintura cerâmica mas fisicamente mais esguia e realista.

Da teoria à prática, Margarete transformou histórias contadas por tantas mulheres da terra numa imagem, num processo criativo, por vezes atribulado, que normalmente começa por ser desenhado à mão e termina no forno a 1250°.

A única regra? Criar com paixão e imaginação.

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