Repito vezes sem conta uma expressão famosa de um escritor grego: “A união faz a força”. Acredito veementemente que esta seja uma forma de progresso muito válida. Mas o mesmo escritor afirmou que, do mesmo modo que a união faz a força, a discórdia leva a uma rápida derrota.
Uma vontade comum pode levar a união de grupos com ideais diferentes. Só que por vezes esta esconde uma falsa união. Uma união hipócrita. Uma ganância por algo que muito se quer.
A actual legislatura está doente. Está num estado de contaminação alargada. O foco maior encontra-se à esquerda. E a cura depende do grau de democracia que ainda resta nessa dita “coligação”… ou acordo à esquerda – como lhe queiram chamar.
É uma “coligação” que teima em avançar indiscriminadamente. Acaba por atropelar o basilar da constituição. Vejamos o primeiro artigo que passo a citar: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. Posto isto, pergunto: Onde foi parar a vontade popular? Isto faz-me mesmo confusão. Em democracia o povo expressa sua vontade por meio do voto directo. Até aqui tudo perfeito. O povo votou e escolheu um líder. A maioria do povo português escolheu Pedro Passos Coelho para Primeiro ministro. Esta vontade deve ser respeitada. As acções a escolher face ao actual contexto político devem espelhar claramente a democracia. Caso contrário, não me revejo neste Estado que de direito já tem pouco!
Existem diferenças bem fincadas nos três partidos de esquerda que se uniram para derrubar a escolha dos portugueses. Ou então esperem… será que as propostas que estes partidos apresentaram durante a campanha eleitoral tiveram assim tanto em comum? Serão as matrizes doutrinárias destes partidos possíveis de agregar-se? Será o PS o solvente e os BE e PCP os solutos a dissolver? Só pode resultar numa solução bem amarga! Lembremos agora o eleitorado destes três partidos. A vontade destes eleitores está a ser respeitada? Cada um deles votou numa proposta eleitoral. Não votou num conjunto de três propostas. Neste ponto, o caro leitor não pode ter dúvidas! É um conjunto que, obviamente, anulará algumas soluções para o país. Acrescentará e transformará outras. Será isto constitucional? Onde está a dignidade? Onde está o respeito pela vontade do povo? Se votei “amarelo” ou “azul”, porque me querem impor o “verde”? Pior: Uma das propostas nem estava nas possibilidades que me apresentaram no boletim de voto. Antevejo pois neste ponto o que referi no início desta crónica: Do mesmo modo que a união faz a força, a discórdia leva a uma rápida derrota.
Curiosidade: Este episódio já é sobejamente conhecido mas é nestas alturas que vem sempre à memória a história de um general romano que, em serviço na Ibéria (actual Península Ibérica), escreveu no século III a.C uma carta ao Imperador. Nesse documento ficou para sempre a famosa frase: “Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar”. Adivinhe o caro leitor quem seria este povo.