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MARCA DE AUTENTICIDADE: PRECISA-SE

7 de Março de 2018 | Helena Ramos Fernandes
MARCA DE AUTENTICIDADE: PRECISA-SE
Opinião

 

Este é daqueles anos que dá perfeitamente para testar e perceber o estado da política nos nossos dias perante a sociedade, sobretudo os jovens. E é deles de quem vou falar. Ou escrever.

O ano passado foi bastante intenso. Houve eleições autárquicas. Tivemos comícios. Enormes espalhafatos de política dita de proximidade. Tivemos uma agitação enorme onde os principais rostos políticos locais, não raras vezes acompanhados de outros nacionais, foram até ao fundo da mais longínqua ruela apenas por um voto. Um único voto, que poderia fazer toda a diferença (não fosse o diabo tecê-las na contagem!).

Passou-se Outubro e aconteceu novamente o previsível. Um silêncio ensurdecedor invadiu os eventos que se vão realizando na nossa região. Em Novembro marquei presença, por exemplo, na Festa do Espumante de Melgaço. Não me lembro de ter visto um único rosto nacional associado a qualquer partido. Talvez estivesse distraída! Não me recordo de ter visto as distritais à esquerda e à direita em peso no evento. E também não tenho memória de agentes políticos a sorrirem plenos de simpatia, durante horas, como se estivessem de plantão debaixo da tenda onde habitualmente se realiza este certame. Não. Isso já não aconteceu. As eleições já lá iam. Era como se o país tivesse sido invadido por uma ressaca enorme e toda uma voz a suspirar de alívio: “Ufa! Finalmente acabou-se a teatrada”.

Deputados na Assembleia da República nos eventos? Apenas um. Talvez dois. Mas o mais certo é nenhum aparecer. Porque não interessa. Não compensa. E nem sequer o autarca local precisa daquela ajudinha para colher mais uns votos. E assim continuamos nós neste país de ajudinhas entre uns e outros onde todo um eleitorado continua cegamente a acreditar que há messias a pensar no povo em primeiro. Pura ilusão no âmbito nacional e distrital. No âmbito concelhio temos algumas excepções, e acredito que o nosso concelho seja uma delas.

Sou mãe. Tenho dois filhos. Lindos, por sinal. Tento passar-lhes o gosto pela política. Mas não os recrimino quando os vejo indiferentes. Há dias, li umas ideias extremamente sábias de um psiquiatra italiano citado pelo jornal “El País”. Segundo ele, a força dos jovens é que não pensam que podem morrer. Talvez por isso percam mais a vida em acidentes do que os adultos, porque não se protegem, arriscam-se, não calculam o perigo, até gostam dele porque estão convencidos de que, por serem jovens, são eternos. Daí a dificuldade para os poderes constituídos de enquadrar ou conquistar os jovens com o medo. Não adianta, porque não conhecem esse vírus. São imunes às ameaças e à violência institucional. Crescem com ela.

Os políticos que pretendam conquistar os jovens com os instrumentos da violência contra eles vão acabar desiludidos. Os jovens não conhecem o medo. Podem até ser amedrontados durante uns momentos, mas depois surgem sempre com uma nova força. Nada mais certo. Repare o caro leitor que em todas as revoltas a que assistimos pelo mundo inteiro são os jovens que estão na primeira linha. São os primeiros a morrer e são os primeiros a renascer.

Acontece também hoje que assistimos a uma atracção dos jovens pelos líderes mais radicais. Porquê? Porque têm a marca da autenticidade. É uma marca que os políticos e os adultos de hoje esquecem com muita frequência, alerta um cronista do mesmo jornal. Estou plenamente de acordo. Falta-nos um pouco dessa marca de autenticidade. Sim porque, apesar de não estar a exercer funções políticas, ainda vivo a política como outrora. Mas voltando aos jovens… é hora de nós, mais adultos (e alguns mais experientes que outros), mostrarmos alguma autenticidade. Ou então, já mais idosos, não vamos poder queixar-nos da abertura que demos à extrema-direita e à extrema-esquerda. Será hipocrisia demasiada culpar os ‘”políticos” dessa geração, quando, na verdade, a única saída será culparmo-nos a nós próprios.

 

 

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