Se na crónica anterior falei de Díli e das suas mudanças, é obrigatório referir as novas instalações da Embaixada de Portugal, que inclui o Centro Cultural Português.
Junto ao edifício do governo timorense e entre duas estradas supermovimentadas da cidade, que continua no seu frenesim diurno e no seu profundo silêncio noturno, a Embaixada surge como espaço totalmente novo, substituindo a triste placa que ali esteve durante anos a dizer, para quem acreditasse que um dia pudesse desparecer, “Futuras instalações”. E despareceu mesmo!
Agora entra-se num edifício moderno, arquitetonicamente leve e convidativo, com um enquadramento paisagístico interessante, numa mistura de verde e cimento, sobressaindo o seu ar elegante e a sua imagem de bem-estar.
O centro cultural é um espaço de excelência, com um auditório aberto, uma sala de formação e uma biblioteca de livros portugueses. Tudo simples, mas também tudo bem organizado e cheirando a novo, passados três meses da sua inauguração.
Ali decorreu a 12 de junho um seminário internacional com palestrantes e timorenses e com a presença do Reitor da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, de Timor, da Vice-ministra da Educação, de Timor, e do Embaixador português em Timor Leste.
Num auditório completamente repleto, com muitos timorenses, e alguns portugueses, ouviu-se falar de globalização, de tecnologias e de educação, numa análise crítica da era em que se vive e a partir de um olhar para o futuro de colossal mudança, que já está à porta.
Das questões colocadas aos palestrantes, um aluno da associação de estudantes da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, expressando-se num português perfeito, quis saber como a escola pode preparar as crianças e os jovens para uma sociedade que não seja apenas dominada pelo conhecimento técnico e abstrato, com respostas para o lado humano das pessoas, já que ninguém vive isolado numa ilha à volta de si próprio, partilhando valores e atitudes que o fazem membro de uma comunidade, que se vai largando em círculos sucessivos, desde a família até à comunidade e aos espaços dominados pela geografia, que tem cada vez menos barreiras.
Ou seja, neste mundo global, em que somos navegadores, solitários e coletivos, nas tecnologias que utilizamos e nos espaços que frequentamos, não dá para entender o ódio que existe entre pessoas, como se ainda estivéssemos na idade rupestre a disputar a melhor gruta ou o melhor território para sobreviver. A guerra é o espelho dessa raiva incontida, gerida por pessoas subordinadas a interesses desumanos, para quem a morte de uma criança refugiada numa praia qualquer é apenas um incidente. E nada mais!
Voltando ao estudante timorense, a pergunta que colocou foi pertinente, embora não haja uma única resposta.