O Serafim, que era da Rola, e a Ana, que sempre foi da Janela, passaram a ser um do outro pouco tempo depois de se conhecerem. A hora do amor nunca foi a mesma para cada geração. As duas estão certas, mas, entre a hora velha e a nova, é pela nova que se acertam os relógios. E acertaram mesmo. No dia 4 de setembro de 1968, o Serafim Rodrigues da Cunha saiu do alto do Espadanal e, passando o cruzeiro de Chavião, levou a Ana Maria Rodrigues Pereira ao altar. Não foi exatamente assim. Eles foram só os dois até à porta da igreja de Castanheira. Depois, ela entrou sozinha para ele esperar no altar. O casamento trouxe um ao outro, uma aliança para cada um e uma mala grande que os levou para Lisboa. Deu-lhes tudo o que precisavam, foi como uma viagem que ninguém se importa como começa mas não esquece como acaba. O António e a Rosa nasceram ainda em Lisboa para onde, entretanto, tinham ido o pai da Ana, a irmã mais nova dela e o cunhado, todos à procura de uma vida melhor. Todos juntos criaram os filhos e os sobrinhos mas sempre com o coração em Castanheira.
Depois de Lisboa vieram para Covas, Vila Nova de Cerveira, de onde o Serafim foi sempre carteiro. No tempo dos telegramas, deu muitas notícias por ali. A maioria delas boas, algumas más. Vieram os netos, quatro ao todo – duas raparigas e dois rapazes. Passaram cinquenta anos inteirinhos mas nunca passou a vontade de terem uma festa como a de todos.
Por isso, no dia 16 de setembro de 2018, os filhos e os netos do Serafim e da Ana não quiseram organizar apenas uma cerimónia que celebrasse as bodas de ouro, era mesmo um casamento. À hora marcada não faltou na Igreja de Castanheira a família toda reunida, mesmo a lembrança dos que já partiram, a bolacha maria com vinho fino e um copo de água surpresa no final.
As histórias de amor não têm idade nem hora para começar ou terminar. A Ana e o Serafim tiveram a festa que sempre mereceram e nós todos tivemos a alegria de vê-los felizes.