No passado dia 25 de Novembro comemorou-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Uma comemoração que nem deveria existir, não pelo teor que se pretende resolver mas porque este tipo de violência nem deveria existir e muito menos ser uma realidade ainda demasiado presente na sociedade actual e no mundo.
Este dia foi escolhido em forma de homenagem às irmãs Mirabal, Pátria, Minerva e Maria Teresa, activistas dominicanas conhecidas como “Las Mariposas”. As três combatiam fortemente a ditadura de Rafael Leonidas Trujillo e pagaram com a própria vida. Contam os historiadores que Minerva Mirabal respondeu aos que a advertiam sobre o risco que corria. “Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”, disse.
Em 25 de Novembro de 1960, as irmãs Mirabal foram brutalmente assassinadas por ordem do ditador. Os seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício, estrangulados e com os ossos fracturados. E, de forma indirecta, as suas palavras não foram vãs. Minerva levantou os braços e tornou-se mais forte. O dia foi escolhido pelas Nações Unidas (ONU) em 1999 para simbolizar a luta contra a Violência sobre as Mulheres. O dia celebra-se anualmente e serve para reforçar a luta e denunciar o flagelo que é a violência contra as mulheres no mundo inteiro e exigir acções e políticas em todos os países que potenciem a sua erradicação. O 25 de Novembro foi então designado como o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, em declaração pública no passado sábado, dia 24 de Novembro, referiu que a violência contra mulheres é “uma afronta moral, um sinal de vergonha em todas as nossas sociedades e um grande obstáculo ao desenvolvimento inclusivo, equitativo e sustentável”. Nas suas declarações proferiu ainda que “é a manifestação de uma profunda falta de respeito, um fracasso dos homens em reconhecer a igualdade inerente e a dignidade das mulheres” e “a violência contra as mulheres está ligada a questões mais amplas de poder e controlo nas sociedades”. Esta é a realidade em que vivemos. Deveremos nós aceitar essa situação só porque por obra do acaso esta realidade não nos bateu à porta? As mulheres que integram as nossas famílias e que não vivenciam esta realidade são diferentes de todas as que não tiveram a mesma sorte?
Durante a comemoração oficial da ONU do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, António Guterres reiterou o compromisso daquela organização em relação ao fim da violência de género. “Somente quando a metade de nossa população representada por mulheres e meninas puder viver livre de medo, violência e insegurança quotidiana, podemos realmente dizer que vivemos num mundo justo e igualitário”, referiu.
Metade da população feminina, Sr. Guterres? Não. Toda a população feminina! Mulheres e meninas devem viver sem qualquer tipo de violência ou repressão. Não é possível continuar a viver numa sociedade que se afirma, sem qualquer tipo de inibição, maioritariamente dominado pelo homem. Esta realidade foi proferida pelo chefe da ONU: “Vivemos numa sociedade dominada pelos homens” e “as mulheres são vulneráveis à violência através das múltiplas maneiras pelas quais as mantemos desiguais”. Quando li esta frase, e apesar de saber que se trata de um apelo contra esta realidade, tive uma sensação de total repulsa. Insere-se numa realidade inaceitável mas, dita como o foi neste contexto, e muitos outros menos amistosos, é tida como aceitável. Existe uma maioria masculina no poder que tudo exerce para nos tentar manter numa posição de desigualdade. No entanto, afirmo na primeira pessoa, porque sou mulher, e porque não aceito com normalidade que a sociedade se defina dessa forma, que somos sensíveis e não frágeis, que somos lutadoras e não fracas, que somos tão ou mais fortes que os homens e que se nós quiséssemos também poderíamos dominar a sociedade.
Não sou feminista activa! Sou simplesmente um ser humano, um ser social… só que do sexo feminino. Sou Mulher! (Helena Ramos)