Ecoando em nossa memória um refrão de uma cantiga que escutamos de uns peregrinos, em Compostela no Ano Santo de 1999“ (A Santiago voy, a Santiago voy, como un peregrino por el camino de la ilusión”), vamos falar, uma vez mais nestas páginas, sobre os Caminhos de Santiago. Antes de mais, uma explicação: dizemos Ano Santo Compostelano, ou Ano Xacobeo (Jacobeu), quando o dia 25 de Julho, memória litúrgica do martírio do Apóstolo Santiago coincide com um domingo, ocorrendo 14 vezes em cada século, sendo o próximo em 2021.
Da nossa história local, é parte intrínseca essa fabulosa via que nos une desde há seculos a Compostela, e por onde milhares de peregrinos de todo o mundo atravessaram o concelho almejando visitar o túmulo com os restos mortais do primeiro apóstolo a ser morto. O caminho foi antes de mais um canal de intercâmbio entre culturas e vidas. Quantas histórias, quantas lendas, quantas referências a Santiago existem na nossa terra! A chamada “meia de baixo” todos os anos assiste à passagem desses transeuntes (a pé, de bicicletas, a cavalo), que pretendem “desligar” um pouco da rotina, aproveitam o percurso para admirar as belezas naturais e históricas edificadas, e realizar um verdadeiro retiro espiritual.
Desde 1999 até hoje, muito se fez… reconhecemos que há vinte anos nunca pensávamos que hoje em dia teríamos tantos equipamentos e outros a pensar nos peregrinos. Há uma crescente valorização do Caminho de Santiago, quer pelo Município, pelas Juntas de Freguesia quer pelos cidadãos. Vejamos, por exemplo: marcos informativos turísticos, casas de habitação de apoio aos peregrinos e o albergue de São Pedro de Rubiães instalado na antiga escola primária da Costa. Ainda recentemente foi instalado no Caminho das Piçarras, junto à Casa Florestal, em Romarigães, uma obra de arte, denominada “Ver através da árvore”, da artista plástica Dalila Gonçalves, que pretende dar as boas-vindas aos forasteiros.
Recentemente o Conselho de Ministros aprovou o decreto-lei que regula a valorização e promoção do Caminho de Santiago, através da certificação dos seus itinerários e da criação de um órgão de coordenação nacional. Esta medida era há muito aguardada pelos municípios atravessados pelo caminho e reconhece a sua importância. Segundo o comunicado do Conselho de Ministros, “pretende-se, com o presente diploma, criar uma disciplina legal que defina os critérios comuns aplicáveis ao reconhecimento, salvaguarda, valorização e promoção do Caminho de Santiago, através de um procedimento de certificação, sob a égide de uma estrutura de coordenação de âmbito nacional”, a Comissão Executiva do Caminho de Santiago. Para além de ficar com a responsabilidade da coordenação da actuação “das diferentes entidades envolvidas”, esta comissão executiva terá como função “a representação, a nível interno e externo, do Caminho de Santiago”. Para o assessorar é criado também um Conselho Científico, ao qual caberá a promoção “da investigação científica, imprescindível à boa gestão do Caminho de Santiago”.
A dois anos do próximo Xacobeo, ainda muito poderá ser feito, como por exemplo a requalificação e limpeza de infra-estruturas, homogeneização da sinalética (a exemplo do que acontece na Galiza, onde há um conjunto de normas), entre outros… acreditamos que quando isso ocorrer, e num futuro próximo, o itinerário português será incluído na lista da Unesco do Património Imaterial da Humanidade.
Paredes de Coura, com certeza, também vai aprimorar (sem exageros destrutores) a envolvente do caminho, demostrar a hospitalidade aos forasteiros, promover o restante território concelhio e actividades locais, e os courenses mais do que nunca em 2021, a pé, a cavalo, de bicicleta, de carro, de autocarro rumarão a Santiago de Compostela, entrando pela porta santa, dando o abraço ao santo, deixando-se purificar pelo fumo proveniente do “Botafumeiro” (incensório de grandes dimensões).
“ A Santiago voy”.