Todos nós temos apelidos de família atribuídos ao longo de várias gerações, mesmo que, na maioria dos assentos de batismo, no conjunto dos registos paroquiais, a tendência tenha sido a de atribuir apenas o nome, muitas vezes próximo de personagens bíblicas ou então no reconhecimento, mais frequente, dos avós e bisavós e, mais raro, dos trisavós e tetravós.
Num caso particular de reconstituição de famílias, o José, o Manuel, o António são nomes muito usados, em que os pais atribuem a seus filhos o legado familiar de um património afetivo, constituído pelo nome com que seus pais e avós eram conhecidos.
E como são tão próximos, num entrelaçamento temporal de duas gerações, porque da anterior já não restam memórias, sobretudo quando a imagem não predominava como nos dias de hoje, há uma outra tendência: aos pais, avós e bisavós nem sempre era atribuído o nome corretamente, uma vez que num registo chama-se, por exemplo, como o caso do meu avô paterno, José Pacheco, e noutro José Joaquim Pacheco.
Recuando-se para o tempo de outras gerações, a confusão aumenta e apenas a comparação dos assentos de batismo com os de casamento e os de óbito torna possível chegar a uma conclusão com algum sentido.
Numa outra reconstituição familiar, do lado da Veiga, e tentando mapear o apelido Brito, os nomes femininos mais comuns são os de Carolina, Joaquina, Rosa e Joana, sendo também utilizado o de Matildes, pois muitos dos nomes eram escritos como falados, mantendo-se o predomínio da oralidade, tal como o registo do lugar de origem.
Não apenas os nomes podem ser conhecidos, como também as profissões poderão ajudar a completar o quadro familiar no contexto social.
E nesse caso é deveras interessante saber o que fizeram os nossos antepassados diretos, mesmo que, até finais do século XIX, mais de 90% das mulheres e dos homens nascidos no concelho de Coura fossem na linguagem minhota, conforme a pena de escrita dos párocos, “labradeiras” e “labradores”.
Com o andar dos tempos, aparecem profissões diferenciadas, de acordo com a divisão do trabalho e repartição de funções, pois o lavrador não existia sem o ferreiro, o carpinteiro, o tamanqueiro, o proprietário, o sapateiro, tal como as casas agrícolas não funcionavam sem as criadas de servir, quase sempre solteiras e com filhos de pais incógnitos.
Mas se os registos paroquiais pudessem reproduzir as vozes das pessoas comuns desse tempo, conhecer-se-ia muito bem a realidade, que era como o pão que o diabo amassou.