Foi a única palavra que me ocorreu para descrever o que sinto em relação a esta novela construída à volta do Dia da Liberdade, o 25 de Abril.
A Assembleia da República (AR) decide comemorar o 25 de Abril. Isto é, 90% dos deputados presentes e eleitos por nós decidiram que assim seria. Então que seja, caros deputados! Juntem-se e comemorem! É um direito que vos assiste… um direito democrático decidido e aprovado por vós. Tal como aprovaram todas as condicionantes e proibições que nós, o povo, temos que cumprir porque nos encontramos em Estado de Emergência. Estado esse também aprovado por vós.
Um Estado que suspende alguns direitos, com a finalidade de nós, o povo, adoptarmos as medidas necessárias para a protecção da saúde pública, no contexto da pandemia.
Sim porque, para os nossos caros deputados, algumas dessas medidas, ou direitos suspensos, não se aplicam! Disparate!
Os jornais estão agora inundados de justificações emitidas por estes caríssimos deputados. São frases feitas e captadas por jornalistas atentos, e todas elas são interessantes. Se eu tivesse tempo e espaço daria asas à minha liberdade de expressão. Sem nunca esquecer que essa liberdade foi conseguida a partir de uma nobre conquista no dia 25 de Abril de 1974. Uma data que este ano vou homenagear simplesmente com pensamentos e palavras, porque felizmente nem sou deputada da AR, nem sou nenhum dos ilustres convidados para essa comemoração agendada. Mas se eu fosse, faltaria, porque as regras decididas em democracia aplicam-se a todos. A democracia é sobretudo isso e não deve transparecer nem o favoritismo nem o poder dos decisores.
Voltando às frases proferidas por esses políticos para a comunicação social, algumas em tom de justificação e outras em tom de arrogância e poder, apenas comentarei uma delas. Escolhi-a porque foi emitida pela figura máxima da AR, considerando que esta talvez, ou não, represente os demais. E aqui está um estranho pensamento democrático!
“A AR não saiu do terreno da vida política democrática com a pandemia”, explicou Ferro Rodrigues ao Público.
Pois não, caro presidente da AR. Esperamos que nunca saia nem desse terreno, nem da sua missão. Nós, os responsáveis pela vossa actual função, queremos continuar a ser bem representados. É simplesmente isso que todos, julgo eu, devem querer.
E acrescento que o povo, a bem dizer, também não saiu do terreno da vida familiar, profissional e religiosa com a pandemia. No entanto, aceitou cumprir com o que lhe foi pedido, apesar de algumas dessas medidas serem de árdua execução e outras um pouco desumanas. Mas para bem de todos, o povo português está a esforçar-se para cumprir.
E acredito, Sr. Ferro Rodrigues, que a maioria de nós, não é saudosista do que quer que seja que não a volta da sua vida sem medos… e essa maioria também não me parece que seja antiparlamentar e muito menos seguidora de “fakes news”. Somos sim, e apesar do abstencionismo, a maioria que elegeu os deputados da AR, disso tenho a certeza.
Podem e devem comemorar o Dia da Liberdade, caros deputados, não deveriam era ser um mau exemplo para quem acreditou em vós. Existem inúmeras formas de comemorações que respeitam ambas as partes.
Em forma de conclusão, coloco-vos esta questão: e se Portugal estivesse na mesma situação em que se encontra Espanha ou Itália, comemorariam o 25 de Abril desta forma tão despreocupada? Recordo-vos, caros deputados, que muitos dos que perderam a batalha contra este maldito vírus partiram sem ser dignamente homenageados. E isto porque nos encontramos em Estado de Emergência.
Na verdade, caros deputados, de vós esperávamos uma ação correcta e nunca esse autêntico disparate…