Passámos pelo Estado de Emergência com alguma distinção.
Os louros vão para as pessoas, os portugueses que entenderam que o perigo não estava no vírus, mas sim no hospedeiro. Ou no “outro”, como referiu a Dra. Mariana Sottomayor: “O inimigo não é o vírus, o inimigo é o outro, aquele que transporta o vírus e nos passa o vírus!”. E esse tal “outro” eramos e somos nós, as pessoas, o principal risco, porque podemos ser os transportadores e os transmissores deste perigo. Por este motivo, caro leitor, o nosso comportamento foi e é a arma mais poderosa contra este inimigo. Temos a missão de nos proteger e o dever de proteger os outros. Mas mais do que uma missão é um acto de consciência.
Os portugueses, pelo menos a maioria, felizmente e atempadamente perceberam isso.
Nesta empreitada de contenção do contágio, não podemos tirar o mérito aos políticos e às políticas praticadas. Mas, propositado ou não, algumas medidas ou orientações apresentam-se-nos bastante incoerentes. Outras muito pouco democráticas. Sem esquecer aquelas que parecem potenciar a discriminação
Entramos agora no Estado de Calamidade, proclamam orgulhosos os nossos governantes.
Será isto bom? A mim, caro leitor, só de ouvir a palavra calamidade estremeço.
E é neste Estado de Calamidade que temos que voltar à vida activa, total ou parcialmente protegidos, com muito ou pouco distanciamento. Uma decisão que temos que tomar, porque apesar dos deveres que nos assistem como cidadãos, somos nós que decidimos qual o rumo que devemos seguir. A vida é nossa, e cabe-nos a nós decidir se queremos ou não correr determinados riscos.
O regresso à escola para os jovens do secundário sujeitos a exames nacionais, está a dar muito que falar. Sobretudo pela falta de definição em relação às orientações enviadas para as escolas. Acrescido ao que é transmitido pela comunicação social. Porque, caro leitor, eu e a maioria dos pais deste país percebemos que os nossos filhos iriam assistir às aulas presenciais referentes aos exames que iriam realizar. E por sua vez, manteriam as aulas on-line em relação às restantes disciplinas.
Mas não, afinal não é nada disso. Parece que os nossos filhos, diferentes dos restantes filhos, terão que assistir à maioria das aulas em função do que for decidido pelas escolas que frequentam. Sim, porque parece que o respectivo Ministério atirou a batata quente para as mãos das escolas deste país. E em relação aos pais, ofereceram-nos estranhas faltas justificadas para que os nossos filhos fiquem em casa. E isso quer dizer o quê, senhores decisores? Afinal quais são as regras? Impedirmos os nossos filhos de irem à escola. E isso que devemos perceber?
No entanto gosto ainda mais da mensagem da DGS sobre este assunto. Estes afirmam que não há motivos para os pais impedirem os filhos de irem à escola. Ora essa! Claro que não há motivo para tal coisa, o Covid-19 e a pandemia não são com certeza motivos válidos.
Voltar à vida normal, sem medos e sem dúvidas, é o que todos ansiamos. No entanto, devemos voltar de forma consciente, sensata e segura. Neste contexto pandêmico, qualquer deslize pode ser fatal, pelo que todos devem ponderar se têm ou não as condições e os motivos válidos para trocar o seguro pelo inseguro.
Reiniciemos, caros leitores, mas com a convicção de que o mais importante nesta nova fase será sem dúvida o nosso comportamento. Mas reiniciemos com o imprescindível e não com o evitável. Este regresso às aulas não me parece ter sido bem pensado, e arrisco-me a dizer que esta desigualdade de tratamento para com os nossos filhos é inconstitucional e um pouco discriminatória. Afinal, caro leitor, quem é o inimigo?