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Hipocrisia, talvez

21 de Julho de 2020 | Helena Ramos Fernandes
Hipocrisia, talvez
Opinião

A hipocrisia é por definição conotada como algo de negativo. Define-se como uma demonstração de bondade, de amabilidade, de ideias ou opiniões apreciáveis que não correspondem á verdade.

O lado negativo da hipocrisia provoca-me repulsa e não são poucas as vezes que eu a reconheço em alguém. Sobretudo quando esta se revela em proveito pessoal, prejudicando ou magoando terceiros de forma voluntária. São atitudes cada vez mais comuns, sobretudo no meio político. Ou porque se defendem ideais diferentes, ou porque simplesmente se está em lados opostos dos muros que a sociedade teima em erguer.

Mas por outro lado já me vi a agradecer um presente do qual não gostei. Talvez porque a pessoa merecia essa atitude ou essa palavra de agradecimento. Quem nunca disse a um cozinheiro que gostou de um petisco, quando afinal detestou o que provou? Seja qual for o motivo que o levou a ter tal atitude, quando a intenção é pelo bem, ou pelo gesto, na minha opinião não é de todo negativa. Nestes casos, o gesto é o que interessa, e não o conteúdo do que é apresentado ou presenteado.

Não obstante, este tipo de atitude não deixa de ser considerado hipocrisia, ou hipocrisia simpática. Poderia relatar muitos exemplos, mas desafio-vos, caros leitores, a tentar recordar situações similares que vos tenham acontecido.

Agora questiono-vos, será a hipocrisia sempre dispensável?

Sabendo que pode não ser bem interpretado o que eu vou escrever de seguido, vou fazê-lo na mesma. Eu aceito, e por vezes até agradeço que em situações particulares, determinados indivíduos sejam hipócritas comigo. Como é obvio, desde que não me prejudiquem deliberadamente. Nem a mim, nem a terceiros!

Quando o propósito se centra no bem ou num final indiferente, a atitude pode até ser aceite.

Eu, pessoalmente, não quero nem anseio pelo mal de ninguém, e consigo ficar feliz com o bem dos outros. Mas não vou ser hipócrita convosco, caros leitores, eu fico muito mais feliz com o meu bem ou com o bem dos meus mais próximos. E aceito naturalmente que vocês possam sentir o mesmo que eu. Pois esta não passa, na minha opinião, de uma atitude natural, de uma atitude aceitável. O que eu não aceito e não respeito é que julguem terceiros de forma leviana, por conveniência ou porque não partilham dos mesmos propósitos, ideais ou opiniões. Ou porque não vestem a mesma cor ou o não gostam do mesmo padrão.

Durante esta pandemia e sobretudo pelas limitações que nos foram impostas, alguns de nós conseguiram ter tempo para pensar, analisar e ponderar. Alguns dirão, meditar. Sobrou algum tempo para olharmos ao nosso redor e interpretar momentos, atitudes e pessoas. Eu relembrei que nem tudo o que reluz é ouro, e que nem tudo o que magoa é mau. Que a nossa sinceridade nem sempre é positiva. Principalmente quando esta colide com os princípios dos outros. Que por vezes as pessoas são hipócritas por educação. Que é aceitável uma hipocrisia simpática desde que o propósito não seja o de agradar ou bajular alguém por interesse.

Hipocrisia, talvez! Mas sempre pelo bem!

 

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