Última Hora

Retido em 2019

7 de Outubro de 2020 | Helena Ramos Fernandes
Retido em 2019
Opinião

O Outono chegou, caro leitor, e não veio bem acompanhado. O frio começa a marcar terreno e a fazer sentir-se, sobretudo durante a noite. Os dias passam suavemente, banhados num misto de sol e nuvens intercalados por chuvas e chuviscos. As temperaturas vão baixando sem pedir licença. Por vezes, estas voltam a subir, talvez levadas pela ilusão das vestes ligeiras e sandálias abertas que ainda compõem os nossos “outfits”. No entanto, o Inverno já se encontra à espreita. E com ele virão as adversidades próprias da altura. Mas enquanto isso, caro leitor, o Outono já se encontra a fazer das suas.

O Outono é considerado uma meia-estação, pelas suas temperaturas amenas e apesar das oscilações. Esta funciona como uma preparação para a chegada do frio provocando-nos alterações externas e internas. A maioria de nós entra em negação perante a aproximação do Inverno. Eu confesso-lhe, caro leitor, que tenho imensas dificuldades em aceitar o fim do Verão. E este ano tornou-se ainda mais difícil. Para mim, e talvez para muitos portugueses, o Verão não foi azul, e apenas marcou a sua presença através das temperaturas que se fizeram sentir nos últimos dois meses. O resto, parece ter ficado retido em 2019.

E você, caro leitor, o que sente nesta altura do ano? Quando as folhas das árvores iniciam a sua única e última viagem rumo ao solo. Quando os dias deixam a noite tomar conta de parte considerável da tarde. Quando o frio e o calor se começam a entrelaçar espalhando arrepios e resfriados. Seja lá qual for o sentimento que o invada nesta altura do ano, faça o esforço, caro leitor, para se manter saudável e forte.

As constipações e gripes que aparecem nesta altura, surgem sobretudo em virtude da teimosia de alguns de nós. Estas advêm da nossa dificuldade em escolher o agasalho adequado. Ou da nossa vontade em aproveitar todos os raios de sol. Mesmo que estes já não tenham a capacidade de aquecer a nossa pele. No entanto, num passado bem próximo, e numa realidade bem diferente, estas visitas indesejadas, eram naturalmente aceites por nós. Os vírus e as bactérias que por aí pairavam, entravam em nós sem se fazer anunciar. Estas alterações do nosso estado de saúde sempre foram toleradas e combatidas, independentemente da intensidade do seu ataque. Pergunto-lhe então, caro leitor, onde se esconde actualmente a nossa tolerância a estas adversidades? Seja qual for a nossa atitude perante o vírus malicioso que vagueia por aí, a ansiedade está sempre presente. Será que essa nossa tolerância também ficou retida em 2019?

Que 2021 venha a passos largos e que este nos devolva parte da estabilidade que perdemos, ou que ficou retida em 2019. O ano que entra agora no seu último trimestre, num âmbito geral, não foi um ano bom. No entanto, este conseguiu semear algumas coisas boas. Foi um ano de aprendizagem para novas realidades, de solidariedade alargada, de respeito mútuo, e foi preponderante na demonstração do quão importante é a cidadania e o civismo na sociedade actual. A melhor parte para mim, caro leitor, foi verificar o esforço que muitos courenses, se não todos, fizeram para que esta doença “non grata” não se propagasse de forma exponencial pelo nosso concelho.

Se me fosse possível agradecer pessoalmente a todos os cidadãos courenses, que directa ou indirectamente contribuíram para atenuar esta ansiedade que nos atormenta, não teria dúvidas na escolha dos agraciados. O meu agradecimento pessoal é dirigido aos courenses, residentes ou não, em geral. Aos intervenientes sociais e políticos que se empenharam para controlar esta situação, sem criar alarmismos, e sabe-se lá em que condições de estado de espírito o fizeram. Não é fácil tomar decisões em situação como a que estamos a viver actualmente.

Mas outros também merecem o nosso agradecimento. Refiro-me a todos os trabalhadores que não pararam e sempre estiveram, e continuam a estar, presentes independentemente do estado de contingência estabelecido. A todos os empresários que perderam, e continuam a perder, capital para ajudar a controlar este problema. A todos os que estiveram, e estão, na linha da frente contra esta pandemia. A todos os que trabalharam, e trabalham, no limiar do risco de exposição e contaminação. Aos nossos filhos e ao pessoal docente e não docente, por este início escolar bem planeado. Todos merecem este agradecimento. Termino desta vez destacando um grupo de profissionais cujo  comportamento ajudou a controlar a expansão da Covid-19 no nosso concelho. Aqueles que, em virtude do ambiente em que trabalham, que é muito propício ao contágio, tudo fizeram para cumprir com as regras estabelecidas no contexto desta pandemia. O meu agradecimento a todos os profissionais que trabalham nas fábricas de Paredes de Coura e concelhos vizinhos. E, pela eficácia do cumprimento, aos responsáveis por essas empresas. Estou certa, caro leitor, que este comportamento contribui para a não propagação do Covid-19 no nosso concelho. Mas estou ainda mais certa que estes também contribuíram indirectamente para combater a crise económica. Sem o trabalho deles a situação económica do nosso pais estaria um pouquinho pior. Um bem-haja para eles.

Os números falam por si, e estes são mais uns daqueles que deveriam ser bem analisados.

E tudo isto, caro leitor, foi vivido em 2020 e, felizmente, não ficou retido em 2019.

 

Comments are closed.