EDUARTINO, UMA VIDA DEDICADA AO ASSOCIATIVISMO
Cristelo é, nesta edição, ponto de paragem ao encontro de mais um courense com história. Chegados ao Lugar de Penegate, deparamos com uma pessoa sobejamente conhecida do nosso burgo, e não só. Falar de Cristelo é também falar de Eduartino Pereira da Cunha, casado, pai de 5 filhos e que, aos 81 nos de idade, ainda demonstra enorme força para viver, com capacidades muito acima da média.
Nascido no Lugar do Cuco, da vizinha freguesia de Castanheira, filho do saudoso e conceituado maestro Américo José da Cunha, concluiu a instrução primária na freguesia, frequentando, durante 3 anos, a escola na velhinha casa do Lavradas, no lugar de Sumil e o último ano na escola primária de Castanheira, sita no Lugar das Corredouras, hoje adaptada a creche. Foi dos alunos que estrearam a nova escola, inaugurada com a presença da Banda Boa União, de Castanheira, também conhecida pela Banda dos Cucos, tendo como regente o pai, Américo Cunha.
Depois de concluída a instrução primária, aos 13 anos seguiu o rumo da maioria dos jovens daquele tempo. De mala de cartão na mão, rumou à capital. Destino: uma carvoaria, na Rua de Campolide, propriedade de um tal Firmino. Não conhecendo o patrão, levou um jornal na mão como forma de identificação. Chegado a Santa Apolónia ao cair da noite, com o jornal, esperou ansiosamente que alguém o identificasse. Depois de horas à espera, ninguém se aproximou até que, cerca da 1 hora da madrugada, foi a policia que, vendo um jovem de 13 anos sozinho. o abordou, encaminhando-o ao destino. Chegado ao local, o patrão pura e simplesmente tinha-se esquecido de o ir esperar. Passados uns meses a trabalhar na carvoaria, sem grandes condições de trabalho e regalias salariais, optou por regressar às origens. No regresso, o progenitor, comerciante da nossa praça, estabeleceu o filho com uma loja, na freguesia de Cepões, concelho de Ponte de Lima. Por ali se aguentou durante 2 anos na exploração da loja.
Entretanto, movido por uma namorada, oriunda do Lugar de Lamamá, decidiu rumar com ela até terra de Santa Cruz. Tinha então 17 anos. Sem dinheiro para as passagens recorreu a familiares e amigos para conseguir as verbas necessárias. Chegado ao Brasil, tinha à espera um tio paterno, que o acolheu, dando-lhe trabalho num pequeno minimercado que possuia nos subúrbios do Rio de Janeiro. Passados cerca de 3 meses mudou-se para o centro do Rio de Janeiro, chegando a trabalhar num dos hotéis mais conceituados da cidade. Volvidos cerca de 5 anos e meio, regressou à pátria, depois de ter sido assaltado e esfaqueado numa mão, por um grupo de 3 delinquentes, em plena rua, quando se dirijia, noite dentro, para casa após mais um dia de trabalho. Valeu-lhe, na circunstância, um taxista que, ao passar na rua, apercebeu-se do assalto, provocando a fuga dos assaltantes. Caso contrário, poderia ter sido liquidado, afiança o Eduartino.
Neste novo regresso à terra e quando idealizava que tinha a situação militar resolvida, uma vez que tinha pago a tropa ainda no Brasil, eis que, um mês após a chegada, foi convocado para comparecer no hospital militar, tendo então sido considerado apto para o cumprimento do serviço militar obrigatório. Trinta e seis meses era o tempo que o esperava no serviço militar.
Cumprida a missão militar, voltou à terra, desta vez de forma definitiva. Foi então que assumiu a gerência da uma nova loja, que tinha sido adquirida pelo pai, cita no Lugar de Penegate, onde hoje ainda possui estabelecimento, de minimercado e café. Para trás fica o resumo de uma vida ligada ao sector comercial.
Mas a vida do Eduartino não se resume à atividade profissional e familiar. Ao longo de décadas tem sido uma figura de proa do associativismo no nosso concelho. Além de integrar, como elemento da comissão de pais da antiga Escola Preparatória de Paredes de Coura, o grupo de courenses que se dirigiu a Lisboa para reivindicar, junto do Governo de então, a construção da Escola Secundária, serviu ainda o SC Courense durante vários mandatos, onde exerceu as funções de secretário, tesoureiro e presidente. Foi ainda proprietário e principal responsável de uma das vidas anteriores do jornal Notícias de Coura, na década de setenta e oitenta do século passado. Mas foi em Cristelo onde deu mais de si.
É, tão só, o rosto mais visível do saudoso Rancho Folclórico de Cristelo. Fundado em 1974, o rancho existiu durante 15 anos, doze dos quais tendo o Eduartino como presidente. Chegando a ter enorme projecção e sucesso, com participações em festas e festivais de nomeada, como o S. João, em Braga, Festas da Agonia, Feiras Novas de Ponte de Lima, Gualterianas, em Guimarães, entre muitas outras actuações na vizinha Espanha. Em média, eram entre 25 a 30 actuações por ano, garante. Com cerca de 30 elementos, a primeira actuação foi na festa de Carreiros, na freguesia de Ferreira, em Junho de 1974. Deixou o grupo volvidos 12 anos, por razões familiares e profissionais. O rancho durou apenas mais 3 anos. Em 1976 ajudou a fundar a Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Cristelo, que passou a integrar também o rancho folclórico.
Na Associação, recorda a construção do campo de futebol na Veiga, sendo um dos primeiros campos de futebol no concelho, depois do Courense e Formariz. Ao longo de anos a colectividade participou sempre nos torneios de futebol Inter-Freguesias, para lá de outras actividades desenvolvidas, de índole cultural e recreativa. “Eram tarefas muito cansativas”, desabafa. Depois de distribuir os elementos do rancho pelas freguesias, após os ensaios nas noites de Inverno, chegando a casa madrugada dentro, logo pela manhã, bem cedo, o destino era ir marcar o campo de futebol. “Era uma rotina, desgastante e cansativa, tantas vezes repetida”, remata.
Apaixonado pela música, não fosse filho de um conceituado maestro, integra actualmente os órgãos sociais da Associação Musical e Cultural de Paredes de Coura, sendo presidente da direcção.
Sempre disponivel a colaborar para o desenvolvimento da freguesia que o adoptou, recorda os trabalhos que realizou, nomeadamente em obras para a igreja paroquial, escola primária, entre outras. Sempre que chamado, o Eduartino respondia presente.