Estes últimos dias foram estranhamente normais no meio da anormalidade que esta pandemia criou nas nossas vidas. A minha família, incluindo-me, foi testada. Testada em várias frentes. A Covid-19 entrou em minha casa sem bater à porta e pelo pé de um de nós. Não se fez anunciar, e vinha com a missão de continuar a corrente dos números e dos receios que tem semeado por onde passa. E estes últimos dias, caro leitor, foram vividos por cada um de nós, aqui em casa, como se de um desafio sério se tratasse. Um desafio com regras bem definidas para serem cumpridas com o máximo de rigor possível. As regras, caros leitores, sempre as regras. Isolamento voluntário e profilático, distanciamento social, etiqueta respiratória, uso de máscara, higienização, isolamento profilático, muita água corrente e nada de correntes de ar.
Voltando à visita não anunciada, caro leitor, esta conseguiu iniciar a sua corrente. E como ponto de partida escolheu o elo mais forte. Mas, felizmente, a nossa pronta actuação interrompeu-a na partida. Isolamento voluntário, mesmo sem certezas em relação aos sintomas presentes. E esta atuação foi derradeira e certeira no desfecho desta corrente encetada. O cumprimento desta regra básica pode ter sido responsável pela protecção dos elos “mais frágeis” desta família. Uma atitude acertada na medida em que tudo era incerto. Não é fácil decidir quando não queremos encarar a probabilidade de estar a acontecer. Principalmente quando tudo tentamos para que não acontecesse. Olhando agora para trás, com a decisão tomada, respiramos de alívio. Pelo menos por enquanto.
Aconselho-vos a utilizar esta regra sempre que tiverem dúvidas em relação aos sintomas. O isolamento voluntário dentro de casa, para proteger os restantes elementos da família, é uma acção de difícil decisão e execução. Mas esta é, sem dúvida, para quem a pratica voluntariamente, uma demonstração de coragem e de amor pelos outros.
Já todos percebemos que os sintomas são diferentes de caso para caso, e que estes podem ser idênticos aos de uma gripe ligeira. Neste caso houve dor de cabeça, dor corporal, tosse seca ligeira, e três dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas a perda de paladar e olfacto, sem nunca ter apresentado febre.
Esta experiência leva-me a acrescentar algo importante ao conselho que apresentei na minha crónica anterior. Além de procedermos como se o vírus estivesse em toda a parte, devemos também, quando apresentamos sinais de doença, considerar que possa ser a Covid-19 e quebrar a corrente com o nosso isolamento voluntário. Estaremos desta forma a proteger os nossos e os outros. Os prazos entre o realizar o teste e o recebimento do resultado, podem ser longos, como aconteceu no nosso caso. Uma situação que se torna desesperante. Em contrapartida, depois de receber o resultado do primeiro teste, que foi positivo, o restante processo foi mais rápido. No dia seguinte todos os outros elementos da família realizaram o teste a Covid19 e, após dois longos dias de espera, todos eles deram negativos à presença de SARS-COV2 (coronavírus). Um alívio para todos! Corrente quebrada!
Quando estiver a ler esta crónica, caro leitor, talvez eu e a minha família, já tenhamos saído do nosso confinamento profilático obrigatório. A decisão do seu fim está nas mãos, e bem, da Direcção Geral da Saúde para nós e do médico de família para o doente.
Aproveito este meio para fazer um pequeno apontamento em relação ao Centro de Saúde de Paredes de Coura, que desde a realização do primeiro teste, entrou em nossa casa através da sua chamada telefónica diária. Uma pronta e contínua actuação muito profissional dos médicos e enfermeiros de Paredes de Coura. O meu agradecimento para eles.
Corrente quebrada em casa, caro leitor. No entanto, iniciaram-se outros tipos de correntes fora dela. A corrente da família e da amizade que nos ajudou a atravessar este mar de incertezas. E a corrente do “passa a palavra”, que estranhamente também acabou por nos ajudar, com sorrisos e gargalhadas.
O nosso episódio, como muitos outros similares a ele, andou por aí a ser contado na terceira pessoa. Com algumas informações correctas e outras incorrectas e sem fundamento. Como se diz por aí, quem conta um conto acrescenta um ponto. Não é, contudo, minha pretensão quebrar esta corrente do diz-que-diz. Apenas dizer-vos que todos estamos bem, incluindo o que está quase curado. A nossa corrente foi quebrada por antecipação. Façam o mesmo. Para nós, neste caso, resultou!