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COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA

13 de Abril de 2021 | Albano Sousa
COURENSES QUE TÊM HISTÓRIA
Destaque

LUIS GRAÇA, O AZEITEIRO DE FAMA

Nesta edição, a rubrica  “Courenses que têm História” regressou à sede do concelho ao encontro, não de um courense de gema, mas de uma figura da terra por adopção.

Luis Carvalho Lopes da Graça, para muitos conhecido pelo Luis Azeiteiro, 83 anos, casado, pai de 4 filhos, é o homem do momento.

Oriundo da cidade de Coimbra, onde nasceu, chegou a Paredes de Coura há cerca de 60 anos, sendo muito forte a ligação a terras de Coura.

Depois de cumprido o serviço militar, o Luis Graça lançou-se no mundo do comércio, abrindo uma casa comercial na localidade de Ribeira de Pena, Taveiro, arredores de Coimbra. Por lá permaneceu 2 anos, antes de rumar até Lordelo do Douro. Oriundo de uma freguesia vocacionada para o negócio do azeite, com muitos colegas azeiteiros, foi desafiado por um amigo, estabelecido em Ponte da Barca, a rumar até Paredes de Coura.

Apesar de desconhecer a terra, aceitou o desafio do amigo Jaime e rumou até Paredes de Coura, onde adquiriu o alvará de vendedor de azeite e produtos pretoliferos. Por cá existia então um outro azeiteiro, o saudoso Joaquim Lopes.

Chegado a Coura, começou por trabalhar na casa do Cabo Reis e, mais tarde, na casa do Toninho Pedro, até se estabelecer em casa própria, ali na zona das Felgueiras, à entrada da Vila.

Em tempo difíceis, tinha clientes em todas as freguesias do concelho, numa época onde abundavam as mercearias nas aldeias. Sem as vias de acesso dos dias de hoje, para chegar à maioria dos estabelecimentos era necessário recorrer a veículos motorizados e a mulas de transporte. Ele próprio fazia o transporte das mercadorias numa motorizada, enquanto que os empregados o faziam com uma mula, levando um conjunto de bilhas com azeite e outro com petróleo, numa época onde não existia luz eléctrica nas aldeias e o petróleo era necessário para a iluminação das habitações. “Era um produto muito gasto”, adianta.

O azeite era vendido nas mercearias a retalho, com os clientes a levarem para casa um quartilho ou meio quartilho em cada compra, porém, afirma que recebia “bidões de 800 litros de azeite, trazidos por um fornecedor de Santo Tirso” e que, “raramente, essa quantidade chegava para um mês”. “Mesmo em pequenas quantidades vendia-se muito azeite no concelho”, revela Luis Graça.

Entretanto o negócio foi-se alterando ao ponto de, a determinada altura, ser proibida a venda a retalho a quem não tivesse casa de comércio aberta ao público. Dessa forma e para poder prosseguir com o ramo abriu ao público uma mercearia, na casa onde ainda hoje habita. Mesmo assim, antes da abertura da loja, foi uma vez apanhado pela fiscalização, que lhe apreendeu todo o azeite que tinha em armazém para revenda.

Com a evolução dos tempos e com a chegada da luz eléctrica a todas as freguesias, o negócio foi perdendo volume, nomeadamente o petróleo que deixou de ser necessário para a iluminação das casas, e o azeite que começou a surgir no mercado em embalagens, perdendo fulgor a venda avulsa do produto. Com o decréscimo nas vendas destes géneros, decidiu então envolver-se também no negócio dos vinhos e cerveja.

A propósito, recorda uma das diversas deslocações até Lisboa para carregar cerveja. Saiu de Paredes de Coura com a furgoneta que possuía com o destino de carregar 300 grades de cerveja na capital. Feita a carga, no regresso a casa, sensivelmente a meio do percurso, a viatura avariou, atrasando o regresso, que só aconteceu depois de um mecânico ter procedido à reparação da avaria. Uma vez chegado, numa época alta do Verão, com muitas festas pelas aldeias, os clientes estevam todos à espera, não sendo necessário proceder à descarga da mercadoria. Foram os próprios clientes a descarregar as cervejas directamente para as viaturas de cada um.

“Eram tempo dificeis, de muito trabalho, mas onde o negócio compensava”, afiança com um sorriso nos olhos.

Está reconhecido pela forma como foi recebido em Paredes de Coura, terra na altura totalmente desconhecida para ele e para a familia, mas diz nunca se ter arrependido da opção tomada e sente-se realizado pelos muitos amigos e clientes que granjeou ao longo destas quase 6 décadas no nosso meio e onde desempenhou praticamente toda a actividade profissional.

“Hoje considero-me tão courense como os demais”, remata Luis Graça.

 

 

 

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