Vêm aí as comemorações do 25 de Abril, e isso, apesar de tudo, é uma óptima razão para se falar de Liberdade. É uma bela razão para celebrar a Liberdade e a libertação.
Como viver e comemorar Abril na terra e no tempo do “Não”? Não beije, não abrace, não cumprimente, não se encontre, não saia de casa, não viaje, não respire, enfim, não viva.
“Solta a Grândola que há em ti”, dizia um cartaz de 2020, em apelo ao canto à janela em Abril confinado.
A paz, o pão, habitação, saúde, educação (…) só há liberdade a sério quando houver…”, é Sérgio Godinho quem o diz cantando “Liberdade”, tema que poderia muito bem servir de inspiração ao cartaz deste 25 de Abril.
Um longo ano (parecem ser 47) sem “igualdade de rostos” na já longa caminhada desde a “terra de liberdade com amigos em cada esquina” de Zeca, ao perigar da liberdade com a falta de “paz, pão, habitação, saúde, educação…”, algo antes temido por Sérgio e agora tão “tremido”.
“O português é caracterizado em todo o mundo pela sua capacidade de desembaraço – ou de desenrasca, como se diz na tropa. E naturalmente que (naquela madrugada) a condicionante de desenrascanço era relevante. “Estas palavras de Salgueiro Maia (cuja foto ilustra este texto), proferidas a propósito da revolução de Abril, serviriam que nem uma luva à terrível guerra que hoje enfrentamos; cada um por si, mascarados, amordaçados, aquartelados, entrincheirados, as nossas casas como quartel, seringas como arma e vacinas como balas, numa batalha desigual, luta cruel e sem rosto, com sombras a Oriente e estilhaços por todo o lado, fragmentos capazes só por si de explodir decisões e campanhas, matar decisores e políticos, vivemos e sobrevivemos hoje debaixo do desconhecido, assustados por “fogo amigo” oriundo das trincheiras decisórias do tal “desenrascanço português” capaz, por exemplo, de rejuvenescer e envelhecer a administração de uma vacina… algumas décadas em tão poucos dias.
Aliás, muito por culpa da pandemia, e do pandemónio dela resultante, segundo um estudo elaborado anualmente pela Economist Intelligence Unit (EIU), todas as regiões do mundo registaram em 2020 um retrocesso democrático, a remoção das liberdades individuais nas democracias desenvolvidas foi a característica mais notória. no caso de Portugal, passou de uma pontuação de 8.03, em 2019, para 7.90, em 2020, caindo da 22ª para a 26ª posição e perdendo a classificação de “democracia plena”, passando a integrar o grupo dos países considerados como “democracias imperfeitas”, categoria onde estão, por exemplo, os lusófonos Brasil e Timor-Leste.
Acredito que esta crise nos servirá para reflectir sobre a debilidade das democracias em momentos de crise, reflexão esta que deverá ser alargada à própria União Europeia que parece incapaz de ser muito mais que um parceiro comercial ao serviço das vacinas e da vacinação e, como bem se diz, as amizades, os amores e as parcerias/sociedades veêm-se nos momentos difíceis.
Apesar de todas estas e outras dores da democracia, perguntar a quem ama a liberdade se o 25 de Abril valeu a pena é ofensa de quem lhe é alheio, dúvida de quem não faz a mais leve ideia do que a ditadura foi. É como perguntar a um doente se valeu a pena a cura ou, a um cego, a recuperação da visão.
Ninguém pode chegar a pretender que a democracia seja perfeita e sem defeitos. Winston Churchill disse um dia que a democracia era a pior forma de governo, salvo todas as demais formas experimentadas de tempos em tempos, a nós caberá sempre a responsabilidade de cuidar das imperfeições e das feridas da democracia, evitando avanços de populismos experimentais num caminho que, nunca obrigatório, deveria ter um só sentido e um único destino: o caminho da liberdade rumo à democracia.
Quando um pouco por toda a Europa se assiste ao regresso manso de um fascismo larvar, é altura de dizer basta a aventuras, 48 anos de ditadura CHEGA, a liberdade conquistada em Abril de 1974, tem agora, mais do que nunca, de ser defendida e preservada com um maior cuidado.
O combate à pandemia não nos pode fazer esquecer que se a saúde é um bem fundamental, a liberdade e a democracia também o são.
Agora, mais do que nunca, o 25 de Abril de 1974, terá de ser “TODOS OS DIAS”.
Viva o 25 de Abril!