AINDA VAMOS A TEMPO DE SOBREVIVER?
A entrada em vigor, a 1 de Maio, da quarta fase de desconfinamento para o nosso e a maioria dos concelhos nacionais, inicia um novo capítulo neste longo período de mais de um ano de pandemia.
Esta fase de desconfinamento trouxe consigo alguma normalidade funcional, estrutural e de horário às actividades económicas, em particular às mais afectadas, como é o caso da restauração e bebidas (o sector perdeu 43,5% de facturação só em 2020) entreabrindo assim a porta à esperança.
Apesar do avanço da campanha de vacinação ter contribuído decisivamente para um actual contexto pandémico favorável, todos sabemos haver um longo e duro caminho a trilhar, caminho este tantas vezes sem retorno(s), e umas quantas e para uns quantos, talvez mesmo sem qualquer luz ao fundo do vírus, num túnel de vida sem saída, tudo isto fruto da débil situação em que o tecido empresarial do canal “Horeca” mergulhou e em que, por vezes, apenas a condição de empresa “familiar” e a funcionar em “casa própria” vai valendo, sobrevivendo em estado de agonia lenta, de coma (dis)funcional, quiçá o rascunho da “crónica de uma morta anunciada”.
A admirável resiliência demonstrada até à data por empresas e empresários, por lojas e lojinhas, por tascas, tabernas, cafés, pensões e restaurantes terá que continuar por período que, parece certo, ser… incerto. A pandemia parece ter vindo para durar e ficar trazendo com ela a necessidade da responsabilização individual e colectiva, obrigando-nos à aceitação e cumprimento de regras sanitárias e sociais, conscientes que a soma comportamental do indivíduo será determinante ao colectivo de forma a evitar retrocessos que poderão ser fatais.
Os nossos sectores de actividade, sim que este que aqui vos escreve também é tasqueiro de toda uma vida, não vão aguentar mais períodos de confinamento, seria algo desastroso. Urge não perder hábitos e recuperar a confiança dos clientes, nesta fase é vital que eles sintam segurança e regressem aos estabelecimentos, os nossos “negócios”, forma tão regional e generalista de apelidarmos o nosso comércio, dependentes que o são do cliente habitual, do amigo de todos os dias, do “Ti Zé” e da “Dona Maria” da casa da frente, sofrem actualmente quebras dramáticas (irreversíveis?) de procura.
Até à reposição de uma relativa normalidade na economia, até que as deslocações sejam despidas de medo e desconfiança, até ao regresso do Verão das festas e dos festivais, das férias e do regresso dos emigrantes, a aposta na concentração do consumo local é urgente, a nossa restauração precisa “como de pão para a boca” de capitalização resultante da “caixa registadora”, para além, claro está, dos prometidos apoios governamentais, necessariamente robustos e a fundo perdido, sem máscaras de empréstimo, de forma a poder sobreviver e fazer parte da retoma económica.
O pouco será sempre melhor que o nada, neste novo ciclo que se iniciou a 1 de Maio, entreabriu-se uma janela, abriram-se portas de esperança, sabedores todos que somos que estas serão as últimas a morrer, a fechar, mas, pouco a pouco, também irão morrendo.