Em tempos de pandemia Covid-19 e num ano em que se aproximam as eleições autárquicas, vou referir-me a um habitante da freguesia de Padornelo que, face às dificuldades inerentes à época nas autarquias, teve a disponibilidade e capacidade de liderar ao longo dos anos a lista mais votada, melhorando a vida de quem vive nos mais diversos lugares desta freguesia, à qual está profundamente ligado.
Procurarei apenas apresentar aqui o que me parece pertinente dizer sobre um cidadão que, após a sua presença e participação na guerra do colonialismo do Estado Novo*, onde foi gravemente ferido, partilhou parte da sua vida dedicada à prossecução do interesse público, correspondente a uma relevância para o colectivo na freguesia que o viu nascer
Trata-se de um autarca que surgiu com as eleições livres do 25 de Abril de 1974, de seu nome Amâncio Barbosa, mais conhecido desde miúdo como o “Lourenço”, com um sentimento humano admirável e uma acção política na resolução concreta e firme, mas sempre que possível conciliadora, dos problemas da freguesia de uma forma eficaz.
Essa acção pública e política, através de vários executivos, com início na disponibilidade para integrar a Comissão Administrativa e, posteriormente, com as primeiras eleições livres realizadas a 12 de Dezembro de 1976, foi sempre pautada, independentemente das dificuldades inerentes ao meio rural e das críticas que só não surgem a quem nada faz, pela dedicação ao que melhor se fez para o bem-estar de todos aqueles que vivem e visitam a freguesia de Padornelo.
Não tenhamos dúvidas, o poder local foi uma das grandes conquistas do 25 de Abril. Quem não se lembra dos Regedores indicados pelo Estado Novo que procediam a uma gestão reduzida ao mínimo dos meios das diversas freguesias.
Durante a multiplicidade dos actos eleitorais que o levaram à presidência da Junta de Freguesia de Padornelo, gostaria de mapear algumas das infra-estruturas que passaram a servir toda a freguesia, designadamente, os acessos rodoviários pavimentados, a rede de abastecimento domiciliário de água, a rede de saneamento, a rede de energia eléctrica, a rede telefónica, os vários fontenários, os parques infantis e de merendas, a sede da Junta de Freguesia, o recinto polidesportivo exterior e as tentativas, sem qualquer êxito, de emparcelamento dos solos classificados como Reserva Agrícola Nacional, com a consequente redução de custos e aumento da produtividade.
Não é difícil ver, ainda hoje, outros locais pelo nosso país sem parte das referidas infra-estruturas e as desigualdades de acesso e de mobilidade que existiam em diversos lugares da freguesia de Padornelo anteriormente ao 25 de Abril.
Este foi um papel importante dos autarcas em determinado período da nossa democracia que nada tem a ver com as tarefas que hoje preocupam os órgãos administrativos que representam, no quadro da transferência de competências que hoje lhes foram incumbidas, no âmbito da descentralização e da autonomia do poder local, cujo financiamento bastante discussão tem merecido.
Enfim, sem cantar loas ao que fez, sempre se preocupou, com a maioria do executivo que o acompanhou, a proporcionar melhores condições de vida num meio rural onde a produção de riqueza sempre foi diminuta, conectando os mais variados interesses, nomeadamente o empenho na resolução dos problemas sociais.
Autarca atento ao que se passava na freguesia, onde a imaginação e criatividade assumiram um lugar de destaque, várias vezes alertava as entidades competentes, pois não dependia da Junta de Freguesia, a manutenção das estradas municipais, a preservação da iluminação pública, a recolha do lixo doméstico, ao que sempre acrescia a preocupação na sustentação dos parques e dos espaços verdes cuja conservação, como todos sabemos, devido à falta de verbas, exige muita dedicação e voluntarismo.
Esse trabalho de proximidade sempre teve, porventura, o seu expoente máximo quando, em ano de eleições, nem precisava de fazer qualquer campanha eleitoral.
Na verdade, as críticas nunca o atingiam e os elogios nunca o iludiram. Foi sempre aquilo que pensou ser como autarca e não o que dele eventualmente se podia dizer.
De facto, a sua persuasão como líder da autarquia, perante os ziguezagues de alguns, contribuiu para a resolução de muitos problemas do seu povo indo ao encontro das suas verdadeiras necessidades, incluindo aqueles que de si discordavam.
Seria profundamente injusto não referir, ainda, a participação exercida pelos membros da Assembleia de Freguesia e da Assembleia de Compartes no desenvolvimento de todos os lugares da freguesia, em particular os novos acessos às zonas florestais, onde mal passavam mulas e hoje quaisquer caleches ou automóveis conseguem lá chegar, realidade esta que também contribuiu para a preservação da floresta, com a criação de condições de melhoria desses caminhos rurais que facilitam a passagem em caso de incêndio.
Como frequentador mais próximo da freguesia, permitam-me, antes de finalizar este pequeno texto, que deixe aqui o devido agradecimento de gratidão a este homem que sempre manifestou preocupação na valorização de tudo aquilo que foi e continua a ser inerente ao interesse público, sem descurar a preocupação manifestada no recrutamento de novos protagonistas para o trabalho autárquico e cultural onde, nesta área, consintam-me que recorde a paciência, persistência e disponibilidade junto dos jovens da Associação Desportiva e Recreativa de Padornelo, à qual também dedicou, com pleno êxito e acrescido entusiasmo, as melhores horas da sua vida, cotando-se como o sócio fundador n.º 1.
*A colonização portuguesa foi como nos diz o investigador de história moderna e contemporânea de Angola, David Birmingham, “a história de um avanço dramático seguido de uma retirada igualmente dramática”. Um império que terminou ao fim de uma guerra que se desenrolou durante 13 anos.
.